Transgénicos: Activistas suspeitam de isenção da Agência de Segurança Alimentar

Lisboa, 20 Abr (Lusa) – Activistas de oito organizações não- governamentais protestaram hoje contra os pareceres dos cientistas da Agência Europeia de Segurança Alimentar (AESA) sobre a comercialização de transgénicos, que dizem não ser isentos, e apelaram à substituição destes profissionais.

Cerca de vinte simpatizantes da “Plataforma +Transgénicos fora do prato+” concentraram-se esta manhã frente à Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, onde decorria um fórum sobre qualidade e segurança alimentar.

Os activistas exigiram “mais precaução” e criticaram a AESA por aprovar organismos geneticamente modificados (OGM) sem garantias, mas o director da Agência, Herman KoÙter, que participou hoje no fórum organizado pela Gulbenkian, refutou todas as críticas.

“Os cientistas [do painel OGM] têm ligações directas e indirectas à indústria que era suposto avaliarem criticamente”, acusou a porta-voz da Plataforma, Margarida Silva.

“Queremos alertar a opinião pública sobre os transgénicos que nos chegam ao prato, porque não estão sustentados numa análise científica válida”, disse a mesma responsável.

A activista defendeu que os cientistas que emitem pareceres sobre OGM “não têm credibilidade”, nem o distanciamento necessário para se debruçar sobre estas questões e devem ser substituídos.

“É preciso analisar questões como a irreversibilidade e os efeitos a longo prazo, o que os cientistas da AESA nunca fizeram”, sustentou.

Num comunicado distribuído aos jornalistas, a Plataforma refere que a Comissão Europeia legitima as suas aprovações sobre a comercialização de novos OGM exclusivamente com base nos pareceres dos cientistas pertencentes à AESA, mas afirma que estes “carecem de rigor científico e de precaução social”.

O mesmo documento assinala que “o Painel OGM já emitiu mais de uma dúzia de pareceres sobre pedidos de comercialização de novos transgénicos e todos eles foram extremamente favoráveis à indústria”.

Motivo porque a Plataforma desconfia da independência e credibilidade da AESA e alerta para os “conflitos de interesse e posicionamentos ambíguos dos cientistas que integram o Painel OGM”.

Questionado pelos jornalistas, Herman K¸eter admitiu que as investigações feitas pelos cientistas são pagas “por vários grupos”, incluindo universidades, governos e a própria indústria, mas sublinhou que “não são menos independentes por isso”.

“É preciso ter cientistas que saibam do que estão a falar e que já tenham feito investigação sobre OGM. Quem paga a investigação é uma combinação de grupos, mas esse pagamento não significa que se vai dar às pessoas aquilo que querem ouvir”, afirmou o responsável da AESA, uma instituição criada em 2002 que tem como função produzir avaliações independentes e cientificamente fundamentadas.

Herman K¸eter reafirmou que, “até agora os OGM avaliados pela AESA não colocam ameaças à saúde humana nem à alimentação animal” e salientou que o maior risco que se coloca actualmente à saúde dos europeus não são os contaminantes, mas sim a obesidade.

Margarida Silva lamentou, por outro lado, que os cientistas portugueses “não estejam a ser envolvidos na discussão sobre os OGM” e que exista uma “grande falta de conhecimento dos portugueses sobre o que representa esta tecnologia”.

As críticas dirigiram-se também à nova legislação sobre transgénicos que o Governo pretende aprovar e que impõe uma distância mínima de 200 metros para evitar a contaminação de culturas.

“Os agricultores vão ficar completamente à mercê dos ventos e dos vizinhos porque as distâncias propostas não são críveis”, argumentou Margarida Silva.

“Esta legislação deixa os agricultores portugueses à mercê de uma contaminação irreversível”, criticou.

Hoje, às 16:00, a “Plataforma +Transgénicos fora do prato+” realiza uma conferência de imprensa, juntamente com o advogado José Sá Fernandes, que vai avançar com uma providência cautelar para impor ao Governo uma moratória sobre o milho transgénico em Portugal.

Fonte: Lusa

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