OGM – Principais objecções: argumentos e contra-argumentos

Objecções ao cultivo de OGM

As principais objecções ao cultivo de plantas transgénicas estão relacionadas com as potenciais consequências ambientais que daí possam advir. Um dos argumentos tem por base a hipótese de que os genes das plantas transgénicas podem passar para outras espécies convencionais e selvagens, provocando uma contaminação genética de consequências desconhecidas. Outro argumento relaciona-se com o facto de as plantas serem tornadas resistentes a herbicidas podendo vir a aumentar a utilização destes produtos contaminantes. Enumeram-se, a seguir, alguns argumentos e contra-argumentos que têm sido utilizados relativamente ao cultivo de OGM.

-> Risco de “poluição genética dos solos”

Em 1999 a equipa de G. Stotzy publicou um artigo em que se demonstrava que a toxina Bt presente no milho transgénico permanecia no solo por períodos que podiam ser superiores a 120 dias. Esta observação foi utilizada pelas associações ambientalistas como argumento de que a permanência no solo afectaria irreversivelmente a fertilidade dos solos, dando origem ao que se chamou “poluição genética dos solos”.

Posteriormente, a mesma equipa publicou um artigo em que mostrava que essa toxina não tinha sido absorvida pelas plantas que seguidamente foram plantadas no mesmo solo, nem as tinha afectado de qualquer modo. 

-> Risco de transferência do gene Bt a outras espécies vegetais

O milho é uma planta proveniente da América Central. Não existe na Europa nenhuma espécie filogeneticamente próxima com que o milho se possa cruzar, o que impossibilita que ocorra qualquer transferência dos seus genes através da polinização.

-> Risco de que os insectos se tornem resistentes às toxinas Bt

Embora os genes Bt se tenham revelado muito eficazes na protecção das culturas de milho contra os insectos ou os fungos, existem alguns receios de que um uso alargado de variedades com estes genes acelere o desenvolvimento da resistência ao Bt, o que resultaria na sua perda como um insecticida eficaz e “amigo do ambiente”. No entanto, é preciso ter em conta que os riscos de desenvolvimento de resistência existem independentemente do método utilizado para a protecção das plantas recorrer a produtos fitossanitários químicos ou biológicos, ou de a técnica de introdução do mecanismo de resistência se basear num método tradicional ou na Engenharia Genética.

-> Borboletas-monarca

O declínio entre 1996 e 1999 dos efectivos das populações migrantes de borboletas-monarca, uma espécie cuja observação é um passatempo nacional nos EUA, foi atribuído ao facto das larvas destas borboletas poderem ter como potencial fonte de proteína o pólen de milho o que, no caso do milho ser transgénico, levaria à ingestão de uma proteína insecticida que fazia parte da sua composição.

Posteriormente, os próprios ecologistas esclareceram que em condições naturais as larvas raramente se alimentam de pólen de milho, pelo que o declínio da espécie estaria provavelmente relacionado com o fenómeno meteorológico “El niño”, que tinha sido particularmente intenso nas zonas de postura das borboletas. Desde então, têm sido apresentados vários trabalhos científicos independentes que confirmaram a inexistência de quaisquer efeitos mensuráveis do milho transgénico em borboletas-monarca.

Objecções ao consumo de alimentos transgénicos

Segundo os críticos, os OGM constituem um risco potencial para a saúde de consequências imprevisíveis, alegando que podem, inclusive, ser responsáveis pelo aparecimento de alergias. Por outro lado, o facto das técnicas utilizadas em biotecnologia recorrerem, por vezes, à introdução de genes de resistência a antibióticos, cria o receio de que essa resistência passe para os microrganismos do intestino humano, resultando no aparecimento de bactérias potencialmente perigosas para o homem. Enumeram-se, a seguir, alguns argumentos e contra-argumentos que têm sido utilizados relativamente ao consumo de alimentos transgénicos.

-> Os OGM aumentam os riscos de alergia

As alergias são reacções exageradas do organismo a uma substância, geralmente uma proteína, que lhe é estranha. Os vegetais têm milhares de proteínas estranhas ao homem, o que resulta na existência de várias pessoas alérgicas a vegetais como a soja, o amendoim ou os morangos. No caso da soja transgénica, por exemplo, existe mais uma proteína do que os milhares de proteínas presentes na soja tradicional, pelo que o aumento do risco de alergia é mínimo. E esse risco desaparece quando a soja é processada para obter óleo ou lecitina, uma vez que são produtos isentos de proteína. Também se pode referir o caso da resistência a insectos de plantas geneticamente modificadas, que lhes é conferida pela presença de um gene da bactéria Bacillus thurigiensis. A pulverização com esporos dessa bactéria é um processo utilizado há várias décadas na agricultura (inclusive na agricultura biológica) para controlar pragas, sem que os diversos estudos efectuados tenham revelado qualquer toxicidade ou alergenicidade das suas proteínas.

-> Os genes de resistência a antibióticos existentes em alguns OGM podem passar para as bactérias do intestino humano

As técnicas de modificação dos genomas requerem que para além do gene que se pretende inserir num determinado organismo, também seja necessário inserir outros genes auxiliares que permitam seleccionar quais as células que efectivamente foram modificadas. Alguns destes genes marcadores conferem resistência a determinados antibióticos, como a ampicilina, o que gera receios de que os genes de resistência possam passar para as bactérias do intestino humano, criando condições para que se desenvolvam estirpes resistentes a antibióticos. No entanto, o aparecimento destas estirpes resistentes requer a reunião de uma série de condições pouco prováveis, que a seguir se referem. Seria necessário que o gene de resistência ao antibiótico se mantivesse intacto, mesmo após o alimento ter sido processado por cozedura, o que dificilmente aconteceria uma vez que as temperaturas elevadas destroem o DNA. Mas caso o alimento não tivesse sido processado, muito provavelmente o baixo pH do estômago e as enzimas (nucleases) existentes no intestino delgado degradariam o DNA, não deixando quaisquer vestígios do gene de resistência. Se ainda assim o gene resistisse, o facto de estar inserido no genoma de uma planta, embora originalmente fosse de uma bactéria, tornaria altamente improvável que naturalmente ocorresse a sua transferência para uma bactéria. Se apesar desta ínfima probabilidade, alguma bactéria adquirisse o gene de resistência, para que se multiplicasse teria que existir pressão selectiva, ou seja, seria necessário que nesse momento a pessoa (ou o animal) estivesse a ser tratada com o antibiótico ao qual a bactéria seria resistente. Seria, então, altamente improvável o aparecimento de estirpes resistentes na sequência da ingestão de OGM com genes de resistência. Mesmo assim, e como medida de precaução adicional, ultimamente não se utilizam genes de resistência a antibióticos importantes em clínica humana. Na Europa, e com base no princípio da precaução, nem sequer são autorizados OGM que contenham genes de resistência a antibióticos.

-> O DNA de um alimento transgénico pode atravessar a parede intestinal e produzir uma alteração genética do hospedeiro

Pelos motivos apontados para os genes de resistência a antibióticos, a probabilidade desta alteração ocorrer também é praticamente nula, até porque não existe qualquer proximidade filogenética entre o OGM ingerido e o Homem.

-> A colocação dos OGM no mercado não foi suficientemente avaliada pelos organismos internacionais

A FAO, a OMS e a FDA avaliam os alimentos transgénicos desde 1990. Das suas análises constam o potencial do OGM se comportar como uma praga ou de causar danos noutros organismos, e a sua capacidade de disseminar as novas características a outros organismos por reprodução sexuada. O comportamento do alimento em humanos e em animais não é analisado, ao contrário do que se faz com os medicamentos, pelo que a longo prazo poderão vir a manifestar-se efeitos indesejáveis.

Objecções éticas

Existem objecções de carácter mais geral à Engenharia Genética, que questionam a legitimidade do ser humano fazer o intercâmbio de genes entre espécies completamente diferentes (as chamadas combinações “não naturais” de genes) apesar de, segundo os seus objectores, se desconhecerem os riscos destas experiências para a saúde humana e para o ambiente. Também há quem alegue que os benefícios para os consumidores não são claros, e que a produção mundial de alimentos ficaria dominada por um número reduzido de empresas, o que tornaria questionável a legitimidade da utilização desta tecnologia.

(*) Fonte: Agência Alimentar

Deixe um comentário