Santarém: Quinta de Herculano retoma tradição do azeite com marca Vale de Lobos

A Quinta de Vale de Lobos, Santarém, onde o historiador Alexandre Herculano iniciou a produção do primeiro azeite de mesa português, no século XIX, voltou a apostar no produto, cuja exportação representa já 75 por cento da produção.

Verónica Santos Lima, economista, que gere a empresa familiar com o marido, o agrónomo Joaquim Santos Lima, disse à agência Lusa que, em 2004, ano da entrada da marca Vale de Lobos no mercado, dos 105 mil litros de azeite produzidos, 75 por cento destinaram-se ao mercado externo, sobretudo para Espanha, Itália e França.

A entrada nestes países, através da principal cadeia internacional de comercialização de azeite, a Oliviers & Co, permitiu que o Vale de Lobos esteja presente em cerca de 70 lojas de todo o mundo, sendo vendido nesta cadeia francesa “em bonitas latas, embalagem diferente da elegante garrafa italiana com que chega a outros destinos”.

“Trata-se de um azeite da mais alta qualidade, todo extra virgem, com acidez muito baixa, frutado, sem qualquer defeito, o que já lhe granjeou três prémios, duas medalhas nos Estados Unidos e uma em Bruxelas”, disse a responsável, sublinhando que, além da cadeia de lojas francesas, o azeite Vale de Lobos é vendido, desde Junho, no Harrods, em Londres.

A alta qualidade do azeite e o facto de os olivais não estarem ainda em plena produção levam a que o preço não seja “muito baixo”, pelo que o comprador português acaba por não ser o seu principal cliente, adiantou.

Apesar disso, o azeite está à venda em lojas “gourmet” de Lisboa e Porto (2.000 litros/ano), tendo Verónica Santos Lima equacionado a venda pela Internet, ideia que abandonou devido aos preços elevados pedidos pelos serviços de entregas.

Nas obras que estão em curso na quinta, na zona de apoio ao lagar de Herculano que os proprietários querem transformar em museu, apesar da recusa da candidatura apresentada ao programa comunitário Leader II, vai ser criado um ponto de venda com sala de provas, onde estarão disponíveis três lotes de azeite, “com sabores e aromas completamente diferentes”.

As obras, que deverão estar concluídas em Setembro, antes do início da nova campanha da azeitona, incluem ainda espaço para engarrafamento e armazenamento do azeite da quinta, que tem sido levado para Abrantes por inexistência de espaço.

Na Quinta de Vale de Lobos estão plantadas cinco variedades de azeitona, num total de 150 mil oliveiras que ocupam uma área de 97 hectares, a maior parte da qual de cultivo super-intensivo (82 hectares), com apanha totalmente mecanizada.

Com este olival mais recente convivem 10 hectares de olival tradicional intensivo, iniciado por Joaquim Santos Lima há 19 anos, depois de tomar conta da quinta, plantação que recentemente passou de sequeiro a rega de gota a gota, com apanha semi-mecânica, que ainda exige recurso a mão-de-obra, o que encarece o processo.

Do tempo de Alexandre Herculano, que viveu na quinta os últimos 10 anos da sua vida (1867/1877), persistem 5 hectares de oliveiras, centenárias e bicentenárias, de variedade galega, de baixa produção e colheita difícil.

Verónica Santos Lima sublinha que todo o azeite Vale de Lobos provém de azeitonas produzidas na quinta, o que surge como uma vantagem perante a directiva que tornará obrigatória a rastreabilidade (ou seja, seguir o percurso de um azeite até à azeitona que lhe deu origem) a partir de 2006.

Para esta economista, o abandono da profissão em Lisboa e a dedicação à quinta valeram pela qualidade de vida, apesar dos 20 anos “extremamente desgastantes” iniciados no momento em que decidiram apostar, primeiro, no turismo de habitação e, depois, na produção de azeite.

Com muitas queixas contra a burocracia, que dificulta e entrava a iniciativa (como a resistência ao olival super-intensivo por parte das entidades oficiais), Verónica lamenta sobretudo as dificuldades levantadas pelo sistema bancário aos empresários agrícolas.

“A banca comercial não gosta de apoiar a agricultura e as caixas de crédito agrícola não arriscam, não têm espírito empresarial e também não existem empresas de capital de risco para este sector. Mesmo com garantias reais não é fácil”, afirmou.

O turismo de habitação é, no seu entender, um “bom complemento” da actividade agrícola, sendo a sua casa (que neste momento dispõe de quatro quartos para alugar) procurada tanto por turistas estrangeiros como por portugueses.

Verónica faz parte do grupo de trabalho de casas de turismo rural do distrito de Santarém que está a desenvolver um projecto com congéneres das províncias italiana da Toscana Sul e francesa da Haute Provence, no âmbito de um programa europeu que envolve as três regiões e de que a Associação Empresarial da Região de Santarém é parceira líder.

Fonte: Agroportal

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