S. Tomé: Carta Agrícola Quer Acabar com Dependência Exclusiva do Cacau

A Carta Agrícola de São Tomé e Príncipe, que define as metas da política agrícola do país para os próximos 15 anos, pretende acabar com a monocultura do cacau, disse hoje à Lusa fonte do Ministério local da Economia.

Num país em que a base da economia é a agricultura e em que 90 por cento da área é ocupada pela cultura do cacau (o principal produto exportado), a nova Carta de Política Agrícola aspira a fazer uma verdadeira reforma agrária.

A diversificação das culturas é uma das traves mestras da proposta do Ministério da Economia, que vai a conselho de ministros e deverá ser aprovada pela Assembleia Nacional até ao final do ano.

“São Tomé e Príncipe não pode continuar a depender só do cacau. É perigoso”, afirmou à Lusa o assessor do ministério, Carlos Pascoal.

De acordo com a mesma fonte, “a Carta define a diversidade de culturas alimentares e as potencialidades dos diferentes solos, porque o país tem aptidão agrícola para culturas tão diversas como o tradicional cacau até às flores ornamentais”.

A pimenta, a canela ou a baunilha são algumas das culturas exportáveis que podem vir a ser incrementadas pelo governo, acrescentou, adiantando não fazer sentido “continuar a cultivar o cacau onde o custo de produção é muito elevado”, explicou.

A “zonagem” agrícola é uma das vertentes do texto que as autoridades são-tomenses esperam que venha a ser “uma espécie de Bíblia” do desenvolvimento rural.

A diversificação cultural, além de culturas com vocação exportadora, aposta também na produção em quantidade e qualidade de espécies importantes para o consumo interno.

Num cenário em que têm vindo a aumentar cada vez mais as importações de bens alimentares, e em que a ajuda internacional reduziu significativamente, a aposta é agora também no cultivo do milho, do feijão, da batata doce e da mandioca, aproveitando o potencial hortícola de zonas como a periferia da capital.

Outro pilar da proposta é o da formação agrária, que motivou a deslocação a Portugal de uma delegação de São Tomé e Príncipe, para a assinatura de um protocolo com a Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Vagos.

Carlos Pascoal, que hoje participou na cerimónia em representação da ministra da Economia, Cristina Dias, atribui à falta de formação dos agricultores a quebra da produção de cacau que preocupa o governo, já que se trata do principal produto exportado.

“As roças coloniais foram nacionalizadas após a independência e estiveram a ser geridas por pessoas que não estavam devidamente preparadas. Com a evolução do regime, as terras foram privatizadas e entregues aos anteriores assalariados, mas faltaram medidas de acompanhamento”, explicou.

O protocolo hoje assinado em Vagos insere-se na estratégia assumida na Carta da Política Agrícola de “vulgarização” do conhecimento e domínio das técnicas de gestão e de cultivo.

A novidade que introduz não é a cooperação com a Escola Profissional de Vagos, que desde há anos acolhe alunos daquele país e que este ano é frequentada por 17 estudantes daquela origem. É, sobretudo, o envolvimento da escola portuguesa no levantamento das necessidades de formação rural em São Tomé e Príncipe.

“O espírito deste protocolo é para que haja mais massificação desses conhecimentos e para que mais jovens possam beneficiar dessa formação”, esclarece o chefe da delegação de São Tomé.

Está prevista a deslocação “para breve” da direcção da escola portuguesa e foi assumida a possibilidade dos seus professores virem a dar aulas no centro de formação agrário de Mé-Zochi.

Trata-se de uma infra-estrutura construída em 1989 pela cooperação italiana, que funcionou de forma regular até 1992, mas que ultimamente tem-se limitado a pequenas acções bianuais de “treino”, através do Programa de Investimentos Públicos (PIP) que o governo pretende relançar.

Fonte: Lusa

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