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Centena e meia de populares da freguesia dos Milagres manifestaram-se hoje numa entrada da vila em protesto contra a poluição suinícola nos cursos de água, fenómeno que tem aumentado desde o início da época balnear.
Segundo José Carlos Faria, porta-voz da Comissão de Defesa do Ambiente da Ribeira dos Milagres, “desde que abriu a época balnear” verificam-se “descargas diárias”, uma situação que só melhorou nos últimos dias, depois de uma reunião com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro.
Para aquele dirigente, esta manifestação foi mais uma forma de “mostrar a indignação aos nossos governantes”, reclamando a aplicação da Lei de Bases do Ambiente à região.
De acordo com essa legislação, os autores das descargas têm de ser responsabilizados criminalmente pelos atentados, podendo ficar proibidos de manter a produção.
Entre os populares estavam duas meninas, de sete e oito anos, que empunhavam dois pequenos cartazes onde se podia ler: “não queremos lixo na Ribeira dos Milagres. Por favor façam o que toda a gente quer. Quem anda a poluir faz mal”.
Na ponte da Catraia, à entrada dos Milagres, foram colocados outros cartazes onde estavam escritas frases como “Ribeira negra sem milagres” ou “Esta ribeira é propriedade do império suíno”.
No entanto, apesar dos sucessivos contactos feitos pela comissão, os populares só ouviram “promessas” de várias entidades do Estado, que rejeitam responsabilidades no licenciamento e fiscalização do sector.
Apesar das várias multas passadas pela GNR, os autos não são encaminhados no tribunal de Leiria, passando a estar “arquivados” por falta de acção das autoridades judiciais, acusou José Carlos Faria.
O porta-voz da Comissão desafiou mesmo o tribunal de Leiria a manter actividade durante o período de Verão para resolver estas prescrições.
“Nenhum cidadão tem direito de poluir, então porquê este império suíno?” – questionou.
Esta manhã, estiveram presentes várias dezenas de populares e cicloturistas, mas José Carlos Faria confessou esperar maior adesão das pessoas à manifestação.
“Estamos a lutar pelo futuro dos nossos jovens”, afirmou, considerando que terá havido “falta de compreensão” por parte de outros populares, nomeadamente os que residem na Praia da Vieira, uma estância balnear particularmente afectada por estas descargas da ribeira dos Milagres, que se sentem na foz do rio Lis.
Na manifestação estiveram presentes dois vereadores da Oposição, Isabel Gonçalves (CDS) e Gonçalo Lopes (PS), que mostraram o seu apoio à indignação dos populares.
“Sou uma cidadã deste concelho” e “sofro também a poluição” da Ribeira dos Milagres, explicou a vereadora centrista e candidata à Câmara de Leiria.
“Tem que se dizer basta. As pessoas têm que se consciencializar que têm de pôr a economia a favor do ambiente e não contra o ambiente”, afirmou a vereadora, que já foi administradora da empresa Simlis (Saneamento Integrado dos Municípios do Lis), responsável pelo tratamento e saneamento dos esgotos domésticos da região.
No actual quadro, Isabel Gonçalves espera que a proposta de saneamento do sector suinícola, desenvolvida pela empresa Recilis, venha solucionar um problema com muitos anos e que já teve uma “primeira tentativa de solução” na década de 90 com a construção de duas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) que nunca funcionaram bem.
No entanto, a vereadora critica os “atrasos” destes projectos, que diz não serem encarados como uma prioridade pela tutela. “Tudo é desculpa para as coisas não funcionarem”, adianta.
Por seu turno, o vereador socialista Gonçalo Lopes lamentou a falta de adesão das pessoas à manifestação convocada pela Comissão, considerando que as razões do protesto justificariam a presença de mais gente.
“Em Leiria, as pessoas não são capazes de se manifestar por causa dos seus problemas”, afirmou.
Fonte: PUBLICO.PT
