Quatro sectores sob a ameaça dos preços

O nosso país deixou de produzir beterraba e depende em mais de cinquenta por cento do exterior na carne e cereais. No leite a situação é melhor. Açúcar, cereais carne e leite são quatro sectores sob forte ameaça da volatilidade dos preços
Cereais

Importações: 75%
Valor do mercado: 888,9 milhões
Com a subida dos preços dos cereais, o sector da panificação tenta apertar o máximo possível os custos para não ter de aumentar o preço final. De acordo com a Associação do Comércio e da Indústria da Panificação, Pastelaria e Similares (ACIP), o volume de negócios do sector caiu 35 por cento no ano passado. Este ano não deverá ser melhor.
“As matérias-primas vão continuar a aumentar e não há grande margem de manobra para fazer reflectir esse aumento nos preços finais, devido à retracção do consumo”, considera Graça Calisto, secretária-geral da ACIP. A responsável admite mesmo a possibilidade de vir a haver problemas de abastecimento.
Os preços do trigo e do milho estão 50 por cento mais altos do que há um ano. A seca na Rússia (a maior dos últimos 50 anos) levou a uma quebra de produção em meados do ano passado, que acabou por desembocar numa decisão do Governo russo de limitar as exportações. Mais recentemente, as inundações na Austrália abalaram o fornecimento de trigo aos mercados.

Açúcar
Importações: 100% das matérias-primas para transformação
Valor do mercado: 312 milhões
Os portugueses ainda têm bem presente a falta de açúcar nos supermercados, na altura do Natal, por ruptura na refinação de açúcar e devido ao açambarcamento. Neste momento, parece pouco provável que possa haver cortes no fornecimento de açúcar, mas a possibilidade do preço deste bem alimentar subir é grande.
A ruptura de abastecimento de açúcar no final de 2010 foi gerada, em parte, pelo atraso da Comissão Europeia em levantar um imposto aduaneiro que existe sobre a importação de cana. Não se sabe até quando é que a Comissão mantém a suspensão desse imposto, criado para proteger a produção de açúcar de beterraba na União Europeia. Neste momento, Portugal não tem produção a partir de beterraba, estando dependente da refinação da cana, mercadoria que continua a subir no mercado internacional. A escalada de preços tem sido gerada por vários factores, entre os quais estão alterações climáticas. O aumento do consumo na China e na Índia ajuda a pressionar os preços. Factores cambiais e a produção de biocombustível são factores que também influenciam o aumento do preço. R.S.

Leite
Importações: no leite, o país é praticamente auto-suficiente
Valor do mercado: 1220 milhões
Quando tomamos um copo de leite ou barramos um pão com manteiga, a probabilidade de estarmos a utilizar produtos estrangeiros é muito pequena. O famoso regime de quotas, por muitas falhas que encerre, e a dinâmica do sector cooperativo fazem com que Portugal não precise do estrangeiro nos dois principais produtos da área dos lacticínios – o leite em natureza e a manteiga, responsáveis por cerca de 60 por cento do mercado.
Encontramos leites e manteigas estrangeiras nas prateleiras dos supermercados por mera opção estratégica, não por real necessidade. Já nos iogurtes e nos queijos, a situação é diferente, particularmente no primeiro item, onde as importações assumem um peso significativo.
Apesar da recente escalada dos preços mundiais dos alimentos, o custo dos produtos na prateleira não conheceu oscilações profundas. No caso do leite bebida, dados do Ministério da Agricultura mostram que o preço manteve-se praticamente estável ao longo de 2010, apesar de o preço que é pago ao produtor ter conhecido, no último semestre, um aumento que não está muito longe dos 10 por cento.
Como é que isto tem sido possível? O resultado traduz a fortíssima tensão existente entre a indústria que trata a matéria-prima e embala o leite e a grande distribuição, que tudo faz para manter o preço de um produto de largo consumo.
Para 2011, o quadro de estabilidade pode romper. Com a recente escalada de preços, que têm repercussões no custo das rações para os animais, a tendência será para aumentar o preço ao produtor e algum reflexo disso irá sentir-se nos consumidores.

Carne
Importação: 60%
Valor do mercado: 1880 milhões
A escalada dos preços das matérias-primas afecta duplamente o sector da carne. Além de prejudicar os importadores, afecta também os produtores nacionais, que vêem os seus custos de produção disparar devido à subida dos cereais, usados na alimentação dos animais.
O aumento da procura por parte da China é uma das principais causas do aumento de preços. De acordo com a Associação Portuguesa de Grossistas, os preços não têm parado de subir, encarecendo as importações, que vêm sobretudo de Espanha, mas também de outros países europeus, do Brasil e da Argentina.
A associação fala mesmo de alguns problemas de abastecimento, que estão a forçar algumas cadeias de supermercados, “regra geral mais exigentes na escolha de carne, a aceitar outras categorias, devido à escassez”. A carne de bovino é quase toda importada, enquanto na carne de aves e de porco, Portugal consegue satisfazer parte das necessidades.
Já os produtores de carne viram os seus custos aumentar cerca de 30 por cento desde meados de 2010, devido à escalada dos preços dos cereais, que encarece as rações. As fábricas de rações já aumentaram o preço em 25 euros por tonelada este mês. Mas um aumento dos preços finais está fora de questão.

Fonte: Anil

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