Obesidade infantil: Nutricionista defende fim da publicidade a alimentos na TV

A nutricionista Isabel do Carmo defendeu hoje a proibição de toda a publicidade televisiva a alimentos durante a programação infantil por considerar que praticamente todos os produtos anunciados são hiper calóricos e pouco saudáveis.

Isabel do Carmo falava durante o Seminário “Obesidade infantil – uma nova epidemia” organizado pela Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO) e a decorrer na Fundação Luso Americana (FLAD), em Lisboa.

Para a especialista em alimentação, a publicidade aos alimentos na televisão devia ser proibida, “como já aconteceu em outros países”, porque “os produtos anunciados são praticamente todos hiper-calóricos”.

“Era uma forma de cortar o mal pela raiz”, acrescentou.

A DECO investigou pela primeira vez a publicidade e a alimentação das crianças em 2000 e, quatro anos depois, voltou a analisar esta matéria, tendo apurado nas duas investigações um “massacre diário de gordura, sal e açúcar”.

Em 2000, a DECO analisou os anúncios transmitidos durante a programação infantil das três estações com maior audiência (RTP, SIC e TVI), complementando a investigação com um questionário a 400 crianças dos seis aos dez anos.

“As televisões portuguesas dedicam uma parte significativa, durante a programação infantil, a anúncios publicitários, sendo a maioria destes a produtos alimentares, cujo consumo deve ser reduzido numa dieta alimentar saudável e equilibrada”, apurou a DECO.

Este estudo indicou que a maioria dos anúncios se referia a chocolates, cereais com açúcar e “fast-food”, ou seja, “produtos pouco interessantes numa dieta saudável”.

Quatro anos depois, a DECO voltou a este assunto e concluiu que, durante a programação infantil, a categoria de produtos mais publicitada é a dos bolos e chocolates, alimentos ricos em açúcar e gordura.

Na estratégia de promoção dos produtos, a associação identificou “brindes, desenhos animados, mensagens que podem induzir em comportamentos errados e o uso da imagem da mãe”.

Segundo o estudo, publicado na edição de Fevereiro deste ano da revista Proteste, a DECO apurou que “um terço dos anúncios recorre a desenhos animados para promover produtos que devem ser consumidos com moderação”.

Para Isabel do Carmo, o problema da obesidade infantil não se resolve apenas com a proibição da publicidade televisiva aos alimentos hiper calóricos.

“As crianças precisam de fazer mais exercício físico, mas, para isso, as cidades têm de ser pensadas para as crianças”, acrescentou.

Isabel do Carmo preconiza ainda uma campanha nacional, “desde que com os mesmos meios de que dispõem as empresas para promoverem os alimentos hiper calóricos”, para prevenir a obesidade infantil.

A especialista frisou que, apesar de não existir um levantamento exaustivo sobre a prevalência da obesidade nas crianças portuguesas, “já existem os dados suficientes para se avançar com uma campanha nacional”.

Um estudo realizado em Portugal, entre Outubro de 2002 e Junho de 2003, a 4.511 crianças com idades compreendidas entre os sete e os nove anos, concluiu que a prevalência de excesso de peso/obesidade foi de 31,5 por cento.

Cristina Padez, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e autora deste “retrato da obesidade infantil”, concluiu que “os valores de excesso de peso/obesidade que as crianças portuguesas apresentam requerem um programa alargado e interdisciplinar para combater, e prevenir, os valores actuais”.

“A obesidade é um problema multi-factorial e requer vários níveis de prevenção, nomeadamente através da família, da escola, dos profissionais de saúde, do governo, da indústria alimentar e dos media”, adiantou a autora.

Fonte: Lusa

Veja também

Consumo de café aumenta resposta ao tratamento da hepatite C

Os pacientes com hepatite C avançada e com doença hepática crónica que receberam interferão peguilado …