Litro à produção a metade do preço de um café

Hélio Carreiro sublinha que hoje em dia os lavradores passam por graves dificuldades, porque os custos de produção e o gasóleo aumentaram, o IVA subiu um por cento. Com tudo isso, as pessoas não têm rendimento para fazer face às despesas. A agravar a banca retrai-se e os agricultores têm dificuldade em aceder ao crédito por deverem à banca…

O Presidente da Associação de Jovens Agricultores de S. Miguel, empossado no cargo há cerca de seis meses, traça um cenário não muito optimista em relação ao sector agrícola, uma vez que os produtores estão a passar por uma fase de incerteza no que diz respeito a investimentos, ao fim das quotas leiteiras (2015), à impossibilidade de acederem ao crédito (uma maioria dos jovens agricultores) – por terem vários créditos junto da banca, à baixa do preço do leite à produção, ao aumento dos preços das rações.

Tudo isso somado ao facto de não conseguirem pagar as suas contas mensais – por o rendimento ser menor – com prejuízo pessoal e familiar, porque não conseguem dar resposta cabal às necessidades da família, bem como tudo se agrava porque têm pouco tempo disponível – trabalham todos os dias sem descanso, uma vez que as vacas precisam de ser alimentadas e ordenhadas todos os dias.

Banca retraída
Em entrevista, Hélio Carreiro afirma que a maior preocupação hoje do agricultor é não conseguir pagar as suas contas e são muitos, dia após dia, que leva as suas reivindicações à Associação, e muitos pedem prorrogar os prazos de pagamento, ou seja pedem para pagarem o que devem no mês a seguir ou subsequentes.

E explica porquê? Os custos de produção estão sempre a aumentar, o gasóleo também já aumentou de preço várias vezes, o leite está a ser pago à produção a um preço mais baixo do que o que era praticado no ano transacto, as rações que voltaram a subir (em Junho e em Setembro). E ainda para agravar mais esta situação soma-se também o aumento de um por cento de IVA. Com todos estes aumentos, acabam por ser as cooperativas a almofada do próprio sector.

Questiona-se se volta com isso ao rol de fiados, como nos falavam pais e avós, refere “mais ou menos”. Mas lembra que as pessoas têm vontade de pagar só que os seus rendimentos actuais não chegam para o esforço financeiro mensal que tem de ser feito”.

Hélio Carreiro dá como exemplo o do avô que trabalhou toda a sua vida, amealhou dinheiro, mas que neste tempo de crise teve de ir buscar ao fundo de maneio que fez para uma necessidade para poder cumprir com as suas despesas efectuadas na sua lavoura. “O leite devia ser pago de maneira a que o produtor pudesse pagar as despesas que tem com os animais, com a exploração e um ordenado para quem trabalha e mais algum dinheiro para a chamada de risco, mas não é isso que acontece.

Tudo isso para o Presidente dos jovens acarreta grandes transtornos financeiros, mas também explica que os agricultores não podem recorrer às linhas de crédito disponíveis porque já têm outros créditos feitos, alguns têm mesmo vários créditos em instituições bancárias diferentes e quando pedem um novo empréstimo a banca retrai-se, porque com a crise e com a baixa dos rendimentos do produtor verifica-se que com mais empréstimos os homens da lavoura ficam com pouca margem para poder pagar, mas também, como sublinha Hélio Carreiro sem recurso à banca não há novo investimento.

Uma situação difícil que para Hélio Carreiro não tem grande solução à vista se não houver uma maior atenção por parte das entidades para com o sector. Como se isso não bastasse o cenário do fim das quotas leiteiras traz uma grande insegurança aos jovens agricultores. Houve produtores que investiram na quota, compraram-na com dificuldades e muitos houve que recorreram à banca. “O que vai acontecer é que vão ficar com as dívidas e as quotas chegam ao fim”. Se agora as dificuldades são muitas, depois de 2015 a situação será mais difícil”.

Mas também é de opinião de que o preço do leite pago à produção na ordem dos 23 cêntimos não faz sentido quando um café custa mais do dobro. “Há coisas que não se percebem e esta é uma delas”.

Num cenário de dificuldades, o tempo também não tem ajudado muito. Hélio Carreiro recorda que houve um Inverno rigoroso que prejudicou o trabalho dos produtores que tiveram de semear as suas culturas mais tarde. A juntar a isso acresce um Verão seco, tendo afectado as colheitas. Isso faz com que os produtores estejam fortemente preocupados com a alimentação dos animais, bem como a sustentabilidade das famílias. Porque – diz Hélio Carreiro – “se eu fechar a porta de um estabelecimento às 18 horas vou para casa e não me preocupo mais, mas o agricultor não o pode fazer porque não tem uma torneira para fechar as vacas. Elas têm de ser tratadas. É diferente”, regista.

“Sempre trabalhei nas vacas desde pequeno”
Acusado no tempo eleitoral de não conhecer bem a realidade dos produtores e questionado se isso o coloca à margem das preocupações reais dos homens da lavoura, Hélio Carreiro diz que isso não corresponde à verdade, porque se a sua profissão a tempo inteiro é a de inseminador artificial, a suas tarefas fora do horário laboral estão todas elas ligadas à lavoura, porque descende de uma família de lavradores e conta que mesmo quando estudava tinha de se levantar cedo para ir ajudar o pai e o avô a tratar das vacas.

Diz que sabe o que é cuidar de uma lavoura e conhece de perto as dificuldades e os obstáculos que quem vive da lavoura tem. “ Desde pequeno que vou para as vacas. Que me conhece bem sabe que as minhas raízes familiares estão na agricultura”. Sobre o seu mandato diz que toda a equipa está trabalhar, consciente das dificuldades, porque dia após dia é uma luta que têm de travar, tal como o foi a própria eleição. Estamos empenhados em intervir em várias frentes, porque é do nosso interesse que a lavoura esteja bem porque se assim fora a associação estará bem, mas infelizmente o sector passa por dificuldades.

Fonte: Anil

Veja também

Consumo de café aumenta resposta ao tratamento da hepatite C

Os pacientes com hepatite C avançada e com doença hepática crónica que receberam interferão peguilado …