Algarve: Morangos cultivam-se sem terra e exportam-se para países da UE

A fruta que comemos não nasce toda da terra: no Algarve, há estufas com morangos empoleirados em prateleiras que se alimentam apenas de água adubada, bagaço de uva ou casca de pinheiro, e são depois exportados para Inglaterra, França, Holanda e Itália.

Os agricultores do Algarve foram os primeiros do País, há cerca de 10 anos, a desenvolver culturas hidropónicas, ou seja, plantas que crescem sem estar em contacto com o solo e que são sustentadas apenas por água com nutrientes e substractos à base de casca de pinheiro ou fibra de coco.

Actualmente existem milhares de morangos a crescerem ao longo do ano no Algarve através do sistema de “cultura sem solo”.

A inovadora técnica, além de permitir que a produção triplique em relação à agricultura tradicional, por se fazerem duas culturas por ano, tem a vantagem de rentabilizar a água das regas com tecnologia avançada e combater os desperdícios em período de seca severa na região.

“Um hectare com morangueiros assentes na terra é capaz de produzir 30 toneladas de fruta, mas por hidroponia consegue produzir-se 90 toneladas”, disse Pedro Mogo, engenheiro técnico no centro de hidroponia do Algarve, realçando que a hidroponia é amiga do ambiente.

As culturas hidropónicas do Algarve – morango, tomate, meloa, feijão verde ou pepino – são produtos mais biológicos que os da agricultura tradicional, que necessita de mais adubos e pesticidas por estar em contacto com solos mais desgastados e com doenças.

Segundo explicou à Lusa o responsável pela Direcção Regional de Agricultura do Algarve (DRAA), José Paula Brito, o controlo da qualidade com alta tecnologia traduz-se em menos pragas e, consequentemente, em menos adubos e pesticidas.

Há cerca de 25 por cento da área de estufas no Algarve coberta com o sistema de hidroponia e quase meia centena de agricultores a dedicarem-se a esta inovação, mas alguns produtores diminuíram as colheitas em relação a anos passados.

A abertura das fronteiras, a entrada de frutas exóticas no País a preços acessíveis e a crise económica generalizada são alguns dos fundamentos para explicar que há dez anos havia 1.200 hectares de estufas e hoje restam 400 hectares.

Há, no entanto, casos de sucesso como a Madrefruta, a única organização de produtores de “culturas sem solo” no Algarve que comercializa meloa, tomate e morangos hidropónicos tanto no mercado regional e nacional, como além fronteiras.

“Exportamos morangos para França, Inglaterra e Holanda e este ano para Itália”, disse Lídia Agrela, da Madrefruta, lembrando que o clima algarvio foi o trunfo para conquistarem um nicho de mercado.

As plantas desenvolvem-se melhor por haver mais luminosidade e, assim, consegue-se levar morangos vermelhinhos em Dezembro ou Janeiro a países que não conseguem produzir nessa altura.

Lídia Agrela refere ainda que o produto português é mais requisitado do que o espanhol. A explicação pode relacionar-se com o facto de Portugal estar a ser mais rigoroso com as normas adoptadas por pedido dos compradores, ao contrário do consumidor espanhol.

As características do produto não são adulteradas com o sistema de hidroponia e o morango, por exemplo aguenta-se perfeitamente uma semana no frigorífico, disse Pedro Mogo, lembrando que aquela fruta, por ser muito frágil, só é apanhada por mulheres, “que têm mais tacto”.

As culturas hidropónicas são uma grande alternativa para ter agricultura sustentável em determinadas zonas do Algarve”, pois permite conseguir produções consideráveis em terrenos de pequena extensão e gerir melhor os gastos de água e pesticidas.

Fonte: Agroportal

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