Actual modelo de produção leiteira está ameaçado

Apesar de representar um dos sectores mais competitivos da agricultura portuguesa, o actual modelo de produção leiteira está seriamente ameaçado. Baseado em pequenas explorações agrícolas familiares, o modelo que existe em Portugal está a ser confrontado com o agravamento do preço das rações e dos custos de exploração, a falta de continuadores nas explorações agrícolas e as normas cada vez mais exigentes a nível ambiental.

O valor de venda das quotas de produção (o direito a produzir e vender leite no mercado atribuído a cada exploração agrícola) tem vindo a diminuir drasticamente, reflectindo a perda de interesse por esta actividade.

Um agricultor do Mindelo, nos arredores do Porto, encerrou a exploração leiteira, passando a dedicar-se à cedência da casa agrícola para casamentos e baptizados. Segundo inicou, o valor da venda da quota de produção cedida a um cidadão holandês que vai produzir leite em Arraiolos foi apenas de três cêntimos por quilo, quando há dois anos valia no mercado 0,40 euros por quilo, ou seja, 12 vezes mais.

Normas penalizadoras e restritivas
Vários produtores de leite manifestaram a sua preocupação quanto aos efeitos das normas e exigências que enquadram a sua actividade. Uma grande parte das explorações não se encontra licenciada a nível camarário, o que obriga à elaboração de projectos com custos agravados e imposições que têm dificuldade em cumprir. Por exemplo, as normas em vigor não permitem que as explorações de leite estejam junto à residência do agricultor, quando na maior parte dos casos é isso que acontece. O sector baseia-se em pequenas explorações que só são viáveis como centro da economia comum dos agregados familiares.

A nível ambiental, as exigências são cada vez maiores e mais restritivas. Todas as explorações vão ser obrigadas a ter um equipamento para tratar os dejectos dos animais que representa um investimento mínimo de 20 000 euros. O cultivo dos terrenos também está sujeito a normas e condicionamentos. Por exemplo, as regras em vigor proíbem a fertilização dos terrenos com estrume a menos de 50 metros dos regatos e cursos de água. Mas, frequentemente, nas zonas de minifúndio os terrenos têm menos de 50 metros de largura.

Nova geração menos disponível para a actividade
Grande parte das pequenas explorações agrícolas e familiares está ameaçada pela falta de continuadores. A actual geração de agricultores que se dedica à produção de leite tem dificuldade em passar o testemunho aos mais novos. Trata-se de uma actividade exigente, assegurada em permanência pelos elementos do próprio agregado familiar, e onde há pouca contratação de mão-de-obra externa.

Como depende da assistência permanente aos animais, não permite ter férias, nem fins-de-semana, nem feriados. Todos os 365 dias do ano são dias de trabalho. Esta exigência é dissuasora para a maioria dos candidatos. Com o agravamento dos custos e a quebra da rentabilidade o futuro de uma grande parte das explorações está ameaçado.

Fonte: Anil

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