Recorde nos preços dos alimentos antecipa nova subida nos cereais

Dezembro ultrapassou máximos da crise alimentar de 2008. Colheitas de 2011 serão determinantes para a estabilização dos mercados

Os preços dos produtos alimentares atingiram um novo máximo histórico em Dezembro, após 16 meses consecutivos em alta, acima do pico que em 2008 chegou a provocar tumultos no Haiti e no Egipto por causa da crise alimentar. As reservas actuais são superiores às desse ano, mas só o volume das colheitas de 2011 vai ser determinante para estabilizar os mercados. A previsão da FAO – a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, que ontem revelou o índice mensal que agrega 55 matérias alimentares – aponta mesmo para novas subidas nos cereais este ano.

Desde 2002 que o valor dos produtos alimentares sobe de ano para ano, chegando globalmente a 2010 aos 179,1 pontos – uma diferença de 88,9 pontos comparativamente com oito anos antes, quando o valor não passava os três dígitos.

A contagem de Dezembro mostra variações de preço significativas em produtos que incluem açúcar (maior subida), cereais, sementes de óleo, lacticínios e carne e que fazem subir o índice no último mês de 2010 para 214,7 pontos (mais 8,7 do que em Novembro). O valor passa mesmo os 213,5 de Junho de 2008, quando se deu a crise alimentar mundial, arrastada pelos máximos históricos do petróleo e que fez disparar os números da fome e provocou mortos em vários países.

Os cereais subiram 14,3 pontos, para os 237,6 no último mês de 2010. Só a carne e os lacticínios tiveram ligeiros aumentos, respectivamente, de 141,5 para 142,2 pontos e de 207,8 para 208,4. A recente escalada iniciou-se de forma mais visível no mercado de cereais em Agosto, frente à queda de dois por cento da produção. E, dado o contexto de incertezas, “é expectável” que o preço continue a aumentar em 2011, comentou à agência financeira Bloomberg Abdolreza Abbassian, economista da agência da ONU.

As próprias disparidades entre o rendimento das culturas de cereais estão a aumentar a nível mundial. E a face visível é a crescente dependência de importações alimentares por parte dos países do Médio Oriente, quando o crescimento populacional na região acelera e o rendimento das culturas corresponde a metade da média mundial, lembrou em Dezembro o director-geral da FAO, Jacques Diouf.

Face à diminuição das reservas, a atenção das Nações Unidas vira-se, agora, para a campanha comercial deste e do próximo ano. A produção mundial terá de aumentar, pelo menos, em dois por cento para que “uma expansão considerável” possa cobrir as necessidades de utilização e as reservas mundiais, lembrava uma análise da FAO antes de serem conhecidos os números de Dezembro.

Fonte: Público

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