Preço do leite ferve nas bolsas internacionais

Dentro em breve poderá estar a fazer contas ao consumo de mais um bem essencial. É que o preço do leite está a disparar nos mercados internacionais, devido ao aumento da procura, que não está a ser satisfeita pelo produtores. E se o leite fica mais caro, também a manteiga, o queijo e outros derivados encarecem.

Como muitas outras matérias-primas, o leite negociado nas principais bolsas de mercadorias através de contratos futuros, que permitem comprar ou vender um bem numa data futura mas garantindo já o preço. O valor de referencia para todo o mundo é o do leite magro em pó, transaccionado na Chicago Mercantil Exchenge.

A cotação dos contratos deste tipo de leite aumentou 59,6% em seis meses para um máximo de 1,58 dólares por libra (o equivalente a 0,453 quilos). Este valor, a que transaccionavam ontem, equivale a sete vezes o preço médio dos últimos cinco anos. Desde o início do ano, o aumento foi de 37,4%. No leite líquido o cenário é semelhante. Os contratos futuros subiram 62% no espaço de uma ano. Só este ano o preço apreciou 30%.

Consumo cresce mais que petróleo
O aumento do preço acontece porque a produção de leite não está a acompanhar o crescimento da procura. De acordo com dados do banco holandês Rabobank, citados pela agência Bloomberg, o consumo de leite aumenta a um ritmo de 3% ao ano, subindo 14% nos últimos sete anos, para os actuais 1,9 mil milhões de litros diários. No mesmo período, o consumo de petróleo regista um incremento de 13&, segundo estimativas das Agência Internacional de Energia.

China, Índia e América Latina são as regiões onde se regista um maior crescimento do consumo. Os mais de 1,3 mil milhões de chineses consomem, em média 38,4 centilitros de leite por pessoa e por dia. O Rabobank estima que o seu consumo anual aumente 15% durante os próximos três anos.

“Os consumidores de países como a China e a Índia só agora estão a despertar para este tipo de produto alimentar, e sua procura ainda vai aumentar muito. Há também que ter em conta o forte desequilíbrio entre oferta e procura de leite nos países da América Latina”, explica ao secretário geral da Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios, Pedro Pimentel.

Além da procura estar a aumentar, a oferta também está sob pressão. “As mudanças climatéricas prejudicaram a produção dos dois maiores exportadores de leite, a Austrália e a Nova Zelândia”, explica o mesmo responsável.

Também a forte subida do preço do milho nos mercados internacionais, o principal cereal utilizado nas rações, está a desincentivar o investimento na produção de leite. Os contratos futuros do milho subiram 21% no espaço de uma ano, devido à procura do cereal para a produção de biocombustiveis, cuja utilização tem vindo a intensificar-se por causa do aumento do preço do petróleo e dos combustíveis.

A pressão sobre a oferta está também a ser sustentada pela ausência de excedentes de produção nos Estados Unidos e na União europeia, devido à política de quotas de produção e subsídios.

Portugal: Não há impacto directo… mas preços podem subir
A valorização dos futuros sobre o leite não significa necessariamente que os portugueses vão ser sentidos nos preços dos derivados, como o leite em pó e a manteiga. No entanto, a quebra da produção poderá vir a pressionar os preços.

“Temos a vantagem de ser auto-suficientes. Isto significa que o preço do leite é mais influenciado pela lei da procura e da oferta interna”, explica o secretário geral da Associação«ao Nacional dos Industriais de Lacticínios. A haver impacto, será indirecto. “Se os preços do leite em pó subirem muito, poderá ser colocada uma maior pressão sobre o leite produzido cá. Poderá haver algum efeito indirecto de subida dos preços do leite”, afirma Pedro Pimentel.

Já as previsões da Lactogal, que reivindica 33% do mercado de produção nacional, são mais pessimistas. Numa entrevista recente aos Jornal de Negócios, o adminstrador-delegado previu uma queda de 6% na produção nacional de 2007 e realçou a quebra generalizada na Europa. Situação que, segundo José Passinhas, significará que “os preços tenham uma tendência para subir”.

Os preços em Portugal são definidos em duas etapas: á produção e na venda. O primeiro caso reporta ao valor pago aos produtores e que varia de acordo com os ciclos de abastecimento e das qualidades físico-químico e biológicas do leite. Pedro Pimentel estima que o preço médio na produção rondará 31 a 32 cêntimos por litro.

Quanto ao preço em venda, o leite é colocado no mercado em função de contratos de fornecimento, que acabam por se reflectir numa “diferença brutal entre o preço de venda inicial e o que é colocado à venda no consumidor”. Ainda assim, Pedro Pimentel recorda que “hoje é possível encontrar leite mais barato do que há dez anos”, devido à crescente concorrência.

Segundo José Passinhas, um litro de leite regular de marca “standart” em Portugal atinge em média os 0,59 euros, enquanto em Espanha ascende a 0,78 euros.

Fonte: Anil

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