Portugal e países mediterrânicos com falta de água de qualidade dentro de 10 a 15 anos

Dentro de dez a 15 anos, Portugal e outros países mediterrânicos terão graves problemas de falta de água de qualidade, de acordo com especialistas portugueses, que apelam para um urgente planeamento integrado dos recursos hídricos.

A escassez de água e a seca será um dos assuntos principais a debater na reunião informal dos ministros do Ambiente da União Europeia, que se realiza de sexta-feira a sábado, em Lisboa, no quadro da presidência portuguesa da UE.

Na reunião, presidida pelo ministro português Francisco Nunes Correia, vai ser debatido um relatório sobre a seca e a escassez de água, apresentado em Julho, pela Comissão Europeia.

“Deve ser dada prioridade de acção às áreas de maior risco como a Península Ibérica. É urgente o planeamento e a gestão integrada a curto e médio prazo das principais bacias hídricas, uma vez que os países mediterrânicos terão graves problemas de falta de água de qualidade em 10 ou 15 anos”, disse hoje à Lusa Amílcar Soares, responsável pela Rede de Observação e Análise da Desertificação e Seca (ROADS).

Segundo o investigador, os decisores políticos devem começar desde já a pensar em conseguir responder a uma questão essencial: “quanto custa e quem paga” as consequências inerentes aos problemas da seca e da desertificação.

Questionado sobre o que gostaria de ver debatido na reunião informal dos ministros do Ambiente dos 27, Amílcar Soares disse ser prioritário “analisar como vão ser distribuídos pelos diferentes países os custos do combate a estes problemas”.

Ao nível nacional, o especialista aconselha o país a investir mais “nas tecnologias de dessalinização da água do mar”, propondo ainda a aplicação “de medidas concretas para alterar os hábitos em relação ao aproveitamento e consumo da água”.

Por sua vez, o responsável nacional do Desert Watch, programa europeu de monitorização da desertificação, Lúcio do Rosário, disse que uma primeira linha de orientação que deve ser abordada pelo ministros dos 27 na discussão sobre o combate à desertificação e seca tem a ver com o “desenvolvimento sério do projecto do combate a este fenómeno nos seus aspectos físicos, mas também em outras componentes, tais como o combate a pobreza”.

“A segunda linha de orientação deve ser o conhecimento da extensão dos problemas”, afirmou o responsável, explicando que é fundamental “conhecer a extensão do fenómeno na Europa para perceber se nos encontramos a regredir ou a avançar no seu combate”.

“É uma questão séria e precisamos de avanços claros”, frisou Lúcio do Rosário, sublinhando que “os recursos hídricos e o ordenamento do território são dois dos principais factores que devem ser encarados como prioritários no seu combate”.

Para o responsável, uma terceira linha de orientação tem a ver com o “estabelecimento de sinergias” com outras convenções, “sobretudo com a Convenção sobre as Alterações Climáticas, a Convenção sobre a Biodiversidade e a Convenção para a Protecção das Florestas”.

O especialista lembrou que o tema da desertificação vai ser analisado na 8ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas de Luta Contra a Desertificação, que se realiza entre 03 e 14 de Setembro, em Madrid.

Este encontro vai reunir cerca de dois mil representantes de governos, agências da ONU, organismos inter-governamentais e organizações ambientais de mais de 200 países.

Questionado pela Lusa sobre a actual situação da desertificação em Portugal, o especialista explicou que as principais preocupações no país nos últimos anos têm sido “as de conhecer o fenómeno e de desenvolver indicadores para a desertificação”.

“Tem havido várias iniciativas em Portugal e estas tem decorrido em todas a frentes. O problema não é ignorado”, disse, sublinhando que a preocupação “já se encontra completamente interiorizada ao ponto de se reconhecer que o programa contra a desertificação deve ser assumido”.

O responsável adiantou que actualmente é “essencial” passar “para uma próxima fase”, nomeadamente perceber como é que este problema “vai ser tratado nos planos regionais e municipais, bem como atacado no dia-a-dia”.

“Hoje em dia já dispomos de muitos indicadores que estão a ser bem encarados, pelo que estou optimista”, lembrando ainda que se esta a trabalhar com outros países mediterrânicos e com países do norte da África, bem como com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa [CPLP], uma vez que todos países desta comunidade são subscritores da Convenção contra a Desertificação”, concluiu.

Fonte: Confragi

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