Lacticínios: a escalada do petróleo branco

O leite está a tornar-se um bem escasso na Europa e os preços disparam, à semelhança do petróleo. O preço do leite está a subir em flecha em Portugal e em toda a Europa, pressionado pela quebra na produção, a subida do custo das rações e focos de doença animal em alguns países. Só os custos dos fertilizantes, rações e cereais já subiram mais de 25% este ano.

“É um aumento na produção que a indústria não reflecte na íntegra, mas terá repercussões em toda a fileira”, admite Pedro Pimentel, secretário-geral da Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios (ANIL).

No Entre-Douro-e-Minho, a principal bacia leiteira do Continente, o preço médio do litro de leite na produção já subiu de 29/30 para 37/40 cêntimos. Em Setembro, quando o consumo começar a recuperar da quebra habitual dos meses de Verão, será a vez de os consumidores sentirem o primeiro impacto desta subida. À semelhança do que já acontece noutros países comunitários, serão confrontados com aumentos de 5 a 10% no preço do leite.

No entanto, o sector admite que a tendência de alta continue e alastre a outros produtos lácteos. Nos iogurtes, onde o peso da matéria-prima é menor, a alta deverá ser de 2,5%, “mas são precisos 10 litros de leite para fazer um 1kg de queijo”, refere a ANIL.

A subida de preços, numa fileira que vale 15% do consumo alimentar nacional e é usada como trunfo para os supermercados atraírem clientes, irá, também, afectar o índice de preços ao consumidor (IPC). A indústria admite que “um aumento de 10% nos produtos lácteos terá um impacto de 0,3% no IPC”.

O recente foco de febre aftosa no Reino Unido ameaça agravar o quadro actual. Acentua a pressão sobre a produção láctea europeia e inviabiliza uma das últimas origens possíveis de vacas para reforçar as explorações: as importações do Norte da Europa enfrentavam já quarentenas devido a surtos de língua azul, doença contagiosa que afecta especialmente rebanhos, mas impede também a circulação de bovinos e teve focos recentes em Espanha.

É um problema adicional para os produtores nacionais, já com uma quebra de 5% (75 milhões de litros) face a 2006, quando ainda faltam quatro meses para o pico de baixa da produção, tradicionalmente em Novembro.

Alemães indignados
Os consumidores alemães, mal habituados por anos com taxas de inflação quase nulas, estão em pânico com a subida violenta do preço do leite e dos lacticínios – e temem que a espiral se estenda ao pão e a outros produtos básicos. A manteiga por exemplo aumentou 50%, o queijo branco 40% e o leite entre 10 e 20%.

Aproveitando a onda da indignação popular, alguns políticos consideraram que se trata de aumentos injustificados, sobretudo porque os agricultores só receberão mais alguns cêntimos e quem mais ganhará com estes aumentos serão as grandes empresas. Edmund Stoiber, ministro-presidente da Baviera, acusou-as de especulação e pediu ao Departamento de cartéis que intervenha. No mesmo sentido se pronunciou a comissária europeia da agricultura, Mariann Fischer Boel. Os responsáveis do sector tentam justificar os aumentos com a seca prolongada na Austrália e com o aumento explosivo do consumo na Rússia, Índia e China.

Sobretudo os chineses estão a descobrir este alimento como fonte de calorias. E embora os 12 milhões de vacas existentes na China já produzam anualmente 30 milhões de toneladas, ou seja, o dobro do que se produzia há apenas 7 anos, isso é insuficiente para os 300 milhões de chineses que passaram a beber leite regularmente. Afinal uma minoria num país que tem 1.300 milhões de habitantes. No ano passado a China importou leite em pó no valor de 500 milhões de euros.

Fonte: Anil

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