Falta de leite faz disparar o preço

O preço do leite pode disparar em face da escassez do produto no mercado. A procura que o leite tem tido por parte de grandes consumidores, como a China e a Índia, está a afectar o mercado europeu, incluindo Portugal, também limitado pelas quotas impostas pela União Europeia.

«Lamentamos informar que por motivos de escassez no mercado, o leite gordo e meio gordo encontra-se em ruptura de stock», pode ler-se num cartaz. Esta foi a forma que o hipermercado Continente de Viseu encontrou para prestar esclarecimentos aos clientes. Há 15 dias, a falta de leite agravou-se naquela superfície comercial. Não é caso único.

O país vive uma crise no sector leiteiro, que está a levar à ruptura de stock de leite nos hipermercados. O leite meio gordo das marcas mais vendidas começou a ser difícil de encontrar. A situação tem-se agravado, ao ponto de a maior empresa de lacticínios portuguesa, a Lactogal, afirmar ao SOL que «vive-se, desde 2007, a mais grave crise de escassez de leite conhecida nos últimos anos».

O aumento do consumo europeu de produtos lácteos, como o queijo, aliado à procura de leite por parte de mercados emergentes, como a Ásia e o Médio Oriente, tem vindo a potenciar a ruptura de stocks, não só no território nacional, mas a nível mundial.Alguns países que não eram tradicionalmente consumidores de leite, como a China e a Índia, estão agora a contribuir para uma quebra da oferta de matéria-prima. Na Europa, a indústria tem apostado na secagem de leite para poder exportar leite em pó desnatado para os novos mercados.

Um outro factor explicativo da redução da matéria-prima tem a ver com o número crescente de produtores de leite que tem optado por se dedicar a um trabalho menos penoso e mais rentável: o cultivo de cereais, para a produção de biocombustíveis.

Num relatório sobre as perspectivas do mercado mundial – divulgado na semana passada, em Bruxelas – é referido que a procura de leite e derivados, em particular o queijo, irá continuar a crescer até 2014.

A comissária europeia para a Agricultura, Mariann Fischer Boel, afirmou que “os preços do leite estão a subir”, o que evidencia que ”o mercado está agora a funcionar”. A comissária manifestou estar a ser ponderado “o aumento das quotas leiteiras em alguns Estados-membros”.

Falta de animais no mercado
Perante o actual cenário de crise, o ministro da Agricultura, Jaime Silva, defende o aumento imediato das quotas leiteiras para compensar o desequilíbrio existente no mercado que motivou o aumento dos preços. No entanto, o aumento súbito das quotas não é viável a curto prazo, tendo em conta que uma vaca demora perto de dois anos até estar apta para a produção.

Para além disso, muitos produtores estão a rentabilizar ao máximo as vacas leiteiras que possuem , visto também haver falta de vacas no mercado. “Não há animais disponíveis no mercado e os que há são muito caros”, exprime António Silva, produtor de Vila do Conde. O preço médio de uma vaca leiteira ronda os 2.500 euros.

Este pequeno produtor, que detém 75 vacas, vende leite exclusivamente para a Agros, mas sabe que outros agricultores optaram por vender leite a Espanha, país que pratica preços mais apelativos. “Estou mais seguro com a Agros, embora os preços até há pouco tempo não fossem muito convidativos”, salienta.

Neste momento, segundo o produtor nortenho, o preço-base para o leite padrão está na casa dos 40 cêntimos/litro, preço que pode variar consoante o teor de gordura. Manuel Balazeiro, também produtor de Vila do Conde e fornecedor da Agros, recebe 46 cêntimos por cada litro de leite.

Manuel Balazeiro, que tem 105 vacas a darem diariamente 2.900 litros de leite, destaca que as dificuldades de licenciamento das explorações têm vindo a desmotivar os produtores nacionais. “Há vacarias onde não se justifica fazer obras porque estão ultrapassadíssimas, os donos teriam de deitar tudo abaixo e construir de novo”, conta.

Na campanha leiteira de 2006/2007, iniciada em Abril de 2006 e terminada em Março de 2007, houve uma produção nacional [no continente] de 1.334 mil toneladas, o que representa uma diminuição no face à campanha anterior (1.405 mil toneladas). O número de produtores também sofreu uma quebra: de 10.083 (campanha de 2005/200&) passaram a haver 8.771 (campanha de 2006/2007).

Preços dos lacticínios aumentaram 10%
O secretário geral da Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios, Pedro Pimentel, já veio sublinhar que, no ano passado, os preços dos lacticínios tiveram um crescimento na ordem dos 10 por cento, um aumento “muito inferior à subida dos preços da matéria-prima que foi de cerca de 50 por cento”.

O Sol foi a duas superfícies comerciais ver quais as marcas de leite disponíveis, na categoria meio gordo, e os respectivos preços. O Continente de Viseu apenas tem disponível leite meio gordo das marcas Gresso e Matinal. Segundo uma funcionária do hipermercado, as pessoas têm optado por leite Gresso meio gordo (65 cêntimos) ou meio gordo da marca Continente (60 cêntimos).

Contactada pelo Sol, a empresa Modelo Continente manifestou que, apesar de já ser habitual depararem-se, sazonalmente, com limitações em termos de stock de leite, actualmente vive-se “uma fase crítica e de amplitude europeia e mundial”.

No Pingo Doce, também de Viseu, é igualmente notória a falta de oferta de leite. Do tipo meio gordo apenas há disponíveis unidades da marca Pingo Doce (62 cêntimos) e Matinal (83 cêntimos). O grupo Jerónimo Martins confirmou viver situação de ruptura de stock. E, por isso, no Verão, viu-se obrigado a aumentar os preços. Nessa altura, recorrendo a anúncios publicitários, pediu desculpas aos clientes por não honrar o compromisso.

Fonte: Anil

Veja também

Consumo de café aumenta resposta ao tratamento da hepatite C

Os pacientes com hepatite C avançada e com doença hepática crónica que receberam interferão peguilado …