Cerca de 1,8 milhões de crianças morrem todos os anos com doenças provocadas pela ingestão de água imprópria para consumo e por más condições de saneamento, segundo o relatório do Desenvolvimento Humano de 2006 que será hoje divulgado.
Em conjunto, a água imprópria para consumo e o mau saneamento constituem a segunda maior causa mundial de mortalidade infantil.
O documento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) intitulado “A água para além da escassez: poder, pobreza e a crise mundial da água” revela que as cerca de 1,8 milhões de crianças que morrem todos os anos equivalem à população com menos de cinco anos a viver nas cidades de Nova Iorque e Londres.
A diarreia, por exemplo, provoca 4.900 mortes por dia, um número seis vezes maior do que a média anual de mortes em conflitos armados nos anos 90.
“Nenhum acto de terrorismo gera uma devastação económica à escala da crise da água e do saneamento, no entanto a questão mal é aflorada na agenda inter nacional”, revela o documento a apresentar hoje na Cidade do Cabo, África do Sul .
Segundo o relatório, há poucos países a tratar a água e o saneamento como uma prioridade política.
A água potável e o saneamento poupariam as vidas de inúmeras crianças, promoveriam o progresso na educação e libertariam as pessoas de doenças que as mantêm na pobreza.
No início do século XXI, a água não potável é a segunda maior causadora de morte infantil em todo o mundo e todos os dias milhares de mulheres e raparigas recolhem água para as suas famílias, um ritual que reforça as desigualdades de género em termos de emprego e de educação.
Hoje cerca de 1,1 mil milhões de pessoas dos países em desenvolvimento têm um acesso inadequado à água e 2,6 mil milhões não dispõem de saneamento básico.
Estes dois défices, revela as Nações Unidas, têm a sua origem nas instituições e nas escolhas políticas, não na disponibilidade da água.
Na verdade, adianta, existe no mundo uma tremenda desigualdade no acesso a água potável e ao saneamento a nível doméstico.
A maioria dos 1,1 mil milhões de pessoas sem acesso à água potável utiliza cerca de cinco litros por dia – um décimo da quantidade média diária usada n os países ricos para puxar o autoclismo.
Em média na Europa, as pessoas usam mais de 200 litros e nos Estados Unidos mais de 400 litros.
Quando um europeu puxa o autoclismo ou quando um americano toma banho utiliza mais água da que é disponibilizada a centenas de milhões de indivíduos que vivem em bairros degradados ou zonas áridas do mundo em desenvolvimento.
As torneiras que pingam nos países ricos desperdiçam mais água do que a que está disponível diariamente para mais de mil milhões de pessoas.
Segundo o relatório, o mundo tem água mais do que suficiente para fins domésticos, para a agricultura e para a indústria, o problema é que, algumas pessoas – nomeadamente as pessoas carenciadas – são sistematicamente excluídas do a cesso pela sua pobreza, pelos seus reduzidos direitos legais ou por políticas públicas que limitam o acesso às infra-estruturas que fornecem água para a vida e para a subsistência.
Uma realidade que leva as Nações Unidas a constatar que a comunidade internacional fracassou nesta área.
Superar a crise da água e do saneamento constitui um dos grandes desafios do desenvolvimento humano no início do século XXI e faltam menos de dez anos para a data-alvo de 2015 para atingir os objectivos de desenvolvimento do milénio – as metas temporais da comunidade internacional para reduzir a pobreza extrema e a fome, diminuir a mortalidade infantil, proporcionar educação às crianças e ultrapassar as desigualdades de género.
Fonte: Agroportal