Crise trava venda de alimentos importados

A crise pôs um pé no travão às compras de alimentos e bebidas importados. Em 2010, a aquisição destes bens ao exterior cresceu quatro vezes menos do que o total das importações e foi a única categoria de produtos em que Portugal reduziu o consumo nos parceiros extracomunitários. Os dados foram revelados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Portugal comprou 6.915 milhões de euros em alimentos e bebidas lá fora. O equivalente a uma subida de 2,5% face a 2009 – um aumento que em parte poderá ser explicado pela variação de preços e que contrasta com a subida de 10,5% do total das importações. Olhando apenas para os parceiros extracomunitários, verifica-se até uma redução expressiva das importações (-10,7%), tendo sido esta a única categoria de produtos a cair.

Perante os números, Luís Reis, presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), lembra que ao longo de 2010 se verificou uma “intensificação da troca das marcas de fornecedor pelas de distribuidor” nos bens alimentares. Mais sensíveis ao factor preço, muitos consumidores optaram pelos chamados produtos de marca branca ou do próprio supermercado que os distribui.

Luís Reis explica que enquanto as marcas dos distribuidores associados da APED – que reúne as grandes cadeias, como a Sonae ou a Jerónimo Martins – são “cerca de 45% produzidos em Portugal e 55% fora do país”, a maioria das marcas de fornecedor tem a sua produção fora do país. “De entre os associados da Centromarca [que reúne as marcas de fornecedor] 86% dos produtos são fabricados fora de Portugal e apenas 14% em território nacional”, concretiza.

Ora, a troca de uma marca de fornecedor por um produto equivalente de marca de distribuidor implica muitas vezes a substituição de bens importados pelos nacionais. “A aceleração dos custos dos transportes no segundo semestre do ano passado também poderá ter retirado a vantagem competitiva aos produtos importados, estimulando mais a compra dos nacionais”, acrescenta Augusto Mateus, ex-ministro da Economia. Mais: os números vão ainda ao encontro do esforço mais acentuado de “articulação entre fornecedores e distribuidores nacionais”, nota o economista.

Além do aumento apenas ligeiro dos bens alimentares, destaca-se a queda da importação de máquinas e peças separadas. Esta foi a única categoria de produtos cujas compras ao exterior voltaram a cair em 2010 (recuaram 7,2%), mesmo depois do desempenho negativo já registado em 2009 (quando já tinham caído 26%). Neste caso, a explicação terá que ver com a forte diminuição do investimento das empresas, cujas estimativas apontam para uma queda de 2%.

Fonte: Anil

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