Crise alimentar pode ser “oportunidade” para Portugal

O ministro da Agricultura não duvida de que o aumento das matérias-primas criou pressão para a subida do preço do pão, mas não de forma uniforme. Uma eventual nova crise alimentar a nível mundial pode ser uma oportunidade para os produtores de cereais em Portugal. Este é o entendimento do ministro da Agricultura, António Serrano, que considerou que o conjunto de factores que estão a provocar o aumento dos preços das matérias primas “pode ser bom para quem produz”.

Embora reconheça que Portugal não tem as melhores condições climatéricas para produzir cereais, o responsável avisa que “neste momento, quem tiver essas condições deve fazê-lo porque há uma oportunidade de preço”. Mesmo com o aumento do custo dos factores de produção, como os impostos, combustíveis ou mesmo os fretes, António Serrano acredita que o investimento “pode compensar”, ainda que chame a atenção para a possibilidade de surgirem “imponderáveis”, tendo em conta os riscos desta actividade.

Entre os factores que contribuem para o aumento dos preços, o responsável destaca desde logo o aumento da procura de alimentos, numa altura em que a FAO – a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – estima que a necessidade de produção duplique até 2050, tendo em conta as previsões de aumento da população mundial de seis para nove mil milhões. A pressionar o preço das matérias-primas, o ministro realça ainda os efeitos climatéricos, que acabam por provocar quebras de produção. E a somar a estes efeitos tem também estado, nos últimos anos, a especulação financeira, “porque, se há procura e há pouca oferta, os investidores vêem aqui uma oportunidade para investir”, conclui.

Aumento uniforme do preço do pão não é razoável, diz ministro
Já quanto ao impacto que o aumento do custo das matérias-primas terá em produtos como o pão, António Serrano não duvida de que, neste momento, 2há pressão para a subida do preço”, mas manifesta dúvidas relativamente a um agravamento uniforme, como a que foi anunciada para 2011, da ordem dos 12%. O responsável lembra que a farinha ainda não atingiu os valores recorde a que chegou no ano de 2000, mas considera “natural que os industriais da panificação tenham necessidade de ajustar os preços”.

O ministro da agricultura acredita, ainda assim, que alguns industriais deste sector terão capacidade de absorver o impacto do aumento dos custos sem fazer ajustamentos, até porque, sublinha, “a margem comercial no pão é bastante interessante”.

“Outros poderão ter que fazer ajustamentos ligeiros, e ainda há quem tenha, pela sua própria estrutura de produção, de proceder a ajustamentos maiores”, disse António Serrano. “Agora, uma decisão generalizada de aumento numa determinada percentagem não me parece razoável num mercado que está liberalizado”, afirmou o ministro. Em sua opinião, “não há concertação no sector”, até porque “há uma disparidade brutal dos preços de Norte a Sul”. O que acontecer, afirma, é “uma forma da indústria fazer valer os seus objectivos e defender os seus associados”.

O ministro também não receia que os aumentos das matérias-primas, da taxa do IVA ou da energia e dos combustíveis possam ser aproveitados por alguns para justificar subidas dos preços extraordinárias. “Espero que a maturidade dos empresários, em geral, em Portugal seja hoje tão elevada que permita lidar com esta situação de forma que contrarie essa expectativa de abuso”, afirmou António Serrano, lembrando, ainda assim: “para situações de abuso, conto com a intervenção da Autoridade da Concorrência.”

Fonte: Anil

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