Cientista Português participa em estudo exaustivo sobre bovinos Europeus

Descobertas duas linhagens paternas associadas à difusão de raças leiteiras e comprovada a elevada diversidade genética de touros Ibéricos

Investigadores sediados na Irlanda, América, Finlândia, Holanda e pela Europa descobriram que as diferenças observadas nos cromossomas Y dos bovinos Europeus reflectem efeitos fundadores associados ao desenvolvimento e à expansão de dois grupos de bovinos leiteiros: as raças calçadas ou vermelhas do Mar do Norte e da costa do Mar Báltico, e as raças malhadas, amarelas ou castanhas da Suíça.

Com o objectivo de determinar a diversidade genética do cromossoma Y entre bovinos da Europa e para investigar as origens dos bovinos leiteiros, obteve-se informação específica do cromossoma Y para um total de 1472 touros de 111 raças. Os resultados alcançados por esta equipa de investigadores foram publicados no último número da revista científica PloS ONE e incluem três resultados-chave: (1) um forte contraste Norte-Sul entre as duas linhagens paternas dominantes na Europa e que coincide com fronteiras históricas, linguísticas, religiosas e culturais; (2) um aumento da diversidade do cromossoma Y em raças de regiões periféricas (Inglaterra, Países Nórdicos e Ibéria) quando comparadas com raças da Europa Central; (3) uma associação das linhagens do Norte e do Sul com o desenvolvimento das raças bovinas leiteiras.

Este constitui, de longe, o estudo mais completo da variação do cromossoma Y de bovinos realizado até agora, já que inclui uma amostragem alargada das raças Europeias. Foi desenvolvido por várias equipas de investigação (Trinity College Dublin, University of California Davis, MTT Agrifood Research Finland, Utrecht University e SERIDA-Gijon-Spain), mas também com a ajuda do Consórcio Europeu de Diversidade Genética Bovina e resulta de um amplo esforço para caracterizar a diversidade genética e compreender as origens das raças bovinas autóctones com o objectivo de conservar os recursos genéticos animais.

O cromossoma Y é utilizado para estudar a herança genética paterna e é importante para compreender o fluxo genético mediado por machos. A informação agora publicada é essencial para efectuar comparações da diversidade do cromossoma Y de bovinos de outras regiões do globo, nomeadamente da África e Ásia e, consequentemente, ajudará à descrição das relações entre raças e das suas origens numa perspectiva global.

O estudo das origens e da evolução dos bovinos domésticos é de interesse para muitas pessoas, não só zooarqueólogos e geneticistas, e a informação do cromossoma Y pode ser comparada com aquela que é fornecida por outros marcadores moleculares, como sejam o DNA materno e autossómico.

A co-autora Dr. Catarina Ginja, do Instituto Nacional de Recursos Biológicos de Lisboa, Portugal, afirmou: “Na minha opinião, a nossa investigação constitui um importante contributo para o melhor entendimento das origens dos bovinos”. Adicionou ainda: “Utilizaremos estes dados de bovinos actuais para estudar o passado através da utilização de técnicas de DNA ancestral. Esperamos assim, num futuro próximo, entender de forma mais abrangente as trajectórias evolutivas destas linhagens paternas. Esta é uma investigação estimulante que fornecerá certamente novas informações sobre a domesticação dos bovinos e o eventual cruzamento entre estes e o seu ancestral selvagem, o auroque.”

A primeira autora, Dr. Ceiridwen Edwards, investigadora em estudos de DNA ancestral da Universidade de Oxford acrescentou: “Esta investigação anuncia o início de um projecto extremamente aliciante de exploração da história paterna dos bovinos Europeus através de DNA ancestral, e que poderá ter implicações para os produtores implicados na criação de bovinos modernos.”

O Professor Johannes Lenstra, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade do Utrecht afirmou: “Nós gerámos um dos conjuntos de dados genéticos animais mais completo alguma vez produzido e que, atendendo ao contexto histórico, terá enormes implicações para o mapeamento de marcadores genéticos associados a características produtivas de importância para a produção de leite”.

Esta investigação e o artigo agora publicado na PloS ONE resultam da colaboração entre vários países na Europa e América, liderada pelo Prof. Johannes Lenstra da Faculty of Veterinary Medicine, Utrecht University, mas que envolveu também investigadores do Trinity College Dublin, da University of Oxford, da University of California Davis, do Instituto Nacional de Recursos Biológicos Lisboa, do MTT Agrifood Research Finland, do SERIDA- Area de Genética y Reproducción Animal Gijon-Astúrias e do CNRS Muséum National d’Histoire Naturelle em Paris.

Fonte: Agroportal

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