Carne e cereais deixam-nos à mercê dos mercados externos

São várias as razões que põem em risco os dias de alimentação barata na Europa. Desde as quebras na produção à própria PAC

Os portugueses podem vir a pagar a carne de vaca duas ou três vezes mais cara do que actualmente. Este é um dos produtos alimentares em que a fragilidade portuguesa face ao exterior é maior. A razão é simples: não produzimos vacas suficientes, não temos capacidade para as alimentar sem recorrer a rações e, como também não as produzimos em quantidade, mais uma vez dependemos do exterior. O que faz com que estejamos totalmente à mercê dos mercados internacionais, onde as matérias-primas alimentares têm estado em alta. Nunca como agora se equacionou este problema, pese o facto de a Europa considerar que está salvaguardada.

Mas não está. Apesar de o governo garantir que não se voltarão a repetir situações de escassez de produtos como a que aconteceu com o açúcar em Dezembro, não há forma de precaver este tipo de situações porque deixou de haver excedentes na União Europeia. O orçamento comunitário também já não suporta o nível de ajuda aos agricultores e o desligamento das ajudas à produção fez com que vastas zonas deixassem de ser cultivadas.

Tal como noutros sectores, as leis da oferta e da procura estão a funcionar em pleno e as bolsas de futuros mostram claramente que existe uma tendência de subida das matérias-primas alimentares nos próximos anos. O que, aliado à alta do preço do petróleo, aponta para que a alimentação barata na Europa possa ter os dias contados.

Outro fenómeno relativamente recente é a pressão que a distribuição, aliada à indústria transformadora, exerce sobre os produtores, impondo-lhes preços cada vez mais baixos quando se assiste a uma escalada no preço das matérias-primas. Em Portugal, de 1999 a 2009 desapareceram 27% das explorações, a maioria das quais com menos de um hectare, pondo também em causa a chamada agricultura de subsistência.

A nossa taxa de dependência externa continua a ser elevada, cerca de 40%, embora não se tenha agravado nos últimos dez anos. Os cereais, as frutas e a carne de vaca e de pequenos ruminantes são os produtos que mais pesam no défice da balança comercial, embora o ritmo de crescimento das exportações agro-alimentares no mesmo período tenha sido muito superior ao das importações. As exportações agro-alimentares cresceram 6,6%, enquanto as importações se ficaram por um aumento de 3,7%.

Portugal também importa cada vez mais frutícolas em resultado do aumento da procura dos portugueses por frutos tropicais, para além de gostarem cada vez mais de consumir estes alimentos fora de época. As nossas exportações centram-se sobretudo no vinho, nas frutas, nos legumes e no azeite. O azeite é aliás um dos casos de maior sucesso, com a transformação de uma cultura de mão-de-obra intensiva para uma de rega gota a gota e apanha mecânica das azeitonas. O que mostra que podemos ter ganhos significativos de produtividade e competitividade, desde que haja políticas integradas e coerentes.

Fonte: ionline

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