Cada vez menos alvos na mira dos caçadores

O dia de hoje não está fácil para rolas, patos, pombos e galinhas-de- água. Desde o alvorecer, os caçadores têm autorização para atirar sobre eles. Do ponto de vista dos caçadores, só muita dose de sorte os pode ajudar a desenferrujar os gatilhos.

Abriu a época, mas a caça é pouca. Se todos os que requerem licença de caça todos os anos tivessem ido hoje para os campos, por aí andariam entre 220 a 230 mil homens. Nem todos se dedicam às espécies a partir de hoje permitidas, muitos não terão querido desiludir-se perante a falta de hipóteses de disparar, mas a maioria “está ansiosa, depois de seis meses sem caçar”. Quem o diz é o presidente da Confederação Nacional de Caçadores Portugueses, que adivinha para este dia grande movimento. “As pessoas vão, independentemente de haver ou não caça, é um acto simbólico e significa gosto pela actividade”, diz Arménio Lança.

O principal alvo deste dia vão ser as rolas. Mas tem havido um recuo nesta população. Não pela caça, diz Arménio Lança, mas porque se registaram mudanças nos habitats, que eram a floresta mediterrânica, os soutos e o pinhal. Ora, muita desta floresta tradicional foi sendo substituída por eucaliptais. Por essa e outras razões, como as mudanças climáticas, a rola comum passou a ter uma concorrente no seu espaço de nidificação- a rola-turca, proveniente do Norte de África. As organizações de caçadores estão a fazer diligências para poder caçar esta espécie mas, segundo Arménio Lança, ela não tem tanto interesse enquanto alvo, dadas as características mais planadas do seu voo. “A rola-comum, sim, tem movimentos mais bruscos, o desafio é maior, é um tiro que excita pela dificuldade”. Este interesse dos caçadores pela rola comum e a constatação de que ela vem faltando já levaram a Confederação Nacional de Caçadores Portugueses a propor uma moratória por um ou mais anos. Mas, para tanto, teria que haver um acordo entre os países que fazem parte da rota de migração da rola (Portugal, Espanha, França, Itália, Marrocos e Argélia). Talvez isso ajudasse a recompor os efectivos da espécie.

Melhor sorte talvez tenham os caçadores com as lebres e coelhos que, este ano, estarão presentes nos campos em maior quantidade. Nos terrenos ordenados, a caça começa a 4 de Setembro e nos não-ordenados a 2 de Outubro. Nesta mesma data arranca o período venatório para a perdiz que, na quase totalidade das zonas de caça, terá, em Outubro, um número de exemplares igual ou inferior ao que havia em Dezembro último. Explica Arménio Lança que, por falta de humidade, os ovos não chegaram a eclodir e, quando eclodiram, os perdigotos nasceram fracos. Para mais, a falta de coberto vegetal, devido à seca, não lhes deu cobertura dos predadores e, junto também aos planos de água, não faltaram as esperas por parte de especimens como os saca-rabos. Nas zonas de caça associativa, “para garantir a sustentabilidade da espécie”, não haverá este ano caça às perdizes.

Governo modifica Lei da Caça

O último Conselho de Ministros (CM) aprovou um decreto-lei que altera o decreto-lei n.º 202/2004 de 18 de Agosto, a chamada Lei da Caça. Tal aprovação foi, contudo, feita ainda “na generalidade”, o que pressupõe, segundo o gabinete do CM, novas consultas sobre o teor do diploma. No passado mês de Julho, a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e Florestas solicitou às organizações de caçadores pareceres ou sugestões sobre o que deveria ser alterado na legislação vigente.

A revisão da legislação tem em vista, segundo o CM, “a eliminação de erros e incongruências que impossilitam a sua correcta aplicação”. No documento aprovado quinta-feira passada, terão sido “corrigidos conceitos” como o direito à não-caça e fixa-se a obrigatoriedade, para não-residentes, de uma licença de caça obtida no país de origem.

Fonte: JN

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