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A inflação em Portugal acelerou, em Junho, 3,4 por cento, surpreendendo os economistas, já que nos meses de Verão há, tradicionalmente, um abrandamento na subida dos preços. As greves dos camionistas e dos pescadores podem ajudar a explicar o fenómeno registado o mês passado.
Mas, como a origem da inflação é essencialmente importada, não há certezas de que o abrandamento da economia nacional, e dos restantes parceiros comunitários, seja suficiente para travar a escalada dos preços que está a assumir uma tendência de aceleração sustentada.
“As greves dos camionistas e dos pescadores foram o principal factor que explica este impacto muito exagerado ao nível dos preços”, afirma Paula Carvalho. A economista do BPI sublinha que “Junho é o primeiro mês em que o indicador tem um comportamento anómalo, pois até aqui a inflação esteve bem comportada e longe dos níveis atingidos nos restantes países europeus”. No conjunto da zona euro, em Maio, a média da taxa de inflação foi de 3,7 por cento, ou seja, superior aos 2,8 por cento registados em Portugal nesse mês.
No entanto, com a aceleração da inflação para 3,4 por cento – a subida mais significativa, desde Junho de 2006 – agrava-se “uma tendência de fundo”, como classifica Carlos Andrade. “Nos meses de Junho a Agosto, a taxa de variação do Índice de Preços no Consumidor costuma ser mais pequena”, lembra o economista-chefe do BES, frisando que, em Junho, do ano passado, a variação foi negativa em -0,1 pontos percentuais e em Agosto chegou a -0,4 p.p.
O mês passado, a taxa de inflação em termos mensais registou uma aceleração de 0,5 por cento, ou seja, 0,6 p.p. mais face ao registado em termos homólogos. “Há um efeito fora do comum”, admite Carlos Andrade “ao qual as greves não são estranhas”, precisa. “Mas a tendência vai muito além disso devido à subida do petróleo” que parece ter vindo para ficar.
Embora alguns economistas acreditem que o abrandamento da economia esperado para o segundo semestre do ano possa travar a inflação, João Duque lembra que “não há sinais de abrandamento das matérias-primas”, muito em especial do petróleo, agora agravado pela nova escalada de tensão no Irão. “Estamos a caminhar para um cenário de estagflação” – abrandamento do crescimento com aceleração da inflação –, frisa o professor do ISEG.
“Se os preços do petróleo continuarem a subir, com o petróleo a atingir os 200 dólares nos próximos meses está instalado um cenário de estagflação” corrobora Paula Carvalho. A economista frisa que o banco, perante os indicadores de ontem, reviu em alta a meta de inflação para 2008 para 3,1 por cento contra os anteriores 2,8 por cento. A meta fixada por Teixeira dos Santos, para este ano, é de 2,6 por cento, um valor já suplantando pela média dos últimos 12 meses que foi de 2,7 por cento.
Portugal converge com a zona euro
Portugal está a aproximar-se a passos largos da inflação registada na zona euro. O INE dedica um capítulo específico à evolução dos preços dos alimentos e bebidas não alcoólicas já que “a taxa de variação homóloga dos preços desta classe passou de 3,9 por cento em Maio para 5,8 por cento em Junho”, o que traduziu, “entre outros factores o contínuo crescimento dos preços dos bens alimentares à base de cereais e de oleaginosas, ao aumento do preço do peixe e, em menor grau, da carne”.
A tendência em Portugal nesta classe acompanha a da zona euro, embora tenha chegado mais tarde a Portugal e com taxas de crescimento inferiores O contributo dos preços da energia não é inocente em todo o índice. Apesar de Portugal, em Maio, integrar o grupo de três países cuja taxa de inflação é inferior à média da zona euro – Holanda (2,1 por cento), Portugal (2,8 por cento) e Alemanha (3,1 por cento) – o ritmo de convergência parece acelerar, mas os dados que o Eurostat vai publicar amanhã, poderão corroborar esta tendência.
Fonte: Anil
