Apenas 5% da água armazenada no rio Douro é aproveitada

A capacidade de armazenamento de água das barragens em Portugal é mal aproveitada e os investimentos nacionais nesta área foram mal feitos. Esta é a opinião de Machado e Moura, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

O professor, que falou ontem no 3º Encontro de Engenharia Civil Norte de Portugal – Galiza, subordinado ao tema da água, acredita que o rio Douro é o maior exemplo do subaproveitamento de recursos hídricos em Portugal. Segundo o especialista, apenas 5% da água armazenada no rio nortenho é aproveitada. “Há a possibilidade de extrair, no rio Douro, cerca de 400 mil milhões de metros cúbicos de água por ano e actualmente só são aproveitados oito mil milhões de metros cúbicos”, assinalou Machado e Moura.

Outro exemplo de subaproveitamento de recursos, apontado pelo professor, é a Barragem do Torrão, que tem uma cota de exploração quatro ou cinco vezes menor do que aquela para a qual foi construída.

O especialista chamou a atenção para a falta de estratégia dos vários governos para o aproveitamento da água. “A questão do armazenamento devia ter sido pensado para os afluentes, mas só construíram barragens nos grandes rios, que têm muita força. As infra-estruturas deveriam ter sido feitas nos afluentes para que o armazenamento de água fosse mais eficaz e respondesse às necessidades dos períodos de grande seca”, explicou.

Machado e Moura entende que em Portugal “estuda-se muito e faz-se pouco”. Criticou a gestão ambiental feita “por amadores”, que “atrasa as obras essenciais para o desenvolvimento do país”. “Portugal não sabe lidar com os problemas ambientais e as decisões tomadas neste campo são irracionais, porque são feitas mais com o coração do que com a cabeça”, salientou o professor.

Machado e Moura referiu a extrema importância da água como alternativa ao uso do petróleo. “Cerca de 80% da energia consumida a nível nacional vem do petróleo, fazendo de Portugal um dos países da União Europeia mais dependentes do ouro negro”, afirmou.

Adiantou que, para além do armazenamento de água “ser uma lástima”, a energia solar, que é uma das potencialidades do país, é mal aproveitada. “O sol é uma energia dispersa e é impraticável criar-se uma central de energia solar. Devia ser obrigatória a instalação de painéis solares em todos os edifícios e só assim se aproveitaria razoavelmente esta energia”, explicou ainda Machado e Moura.

Salientou ainda que Espanha cumpre “os acordos sobre a água até ao limite” e que Portugal tem que repensar a sua estratégia enérgica.

Carlos Fernandéz Jáuregui, vice-presidente do Programa Mundial da Água da UNESCO, classificou a água como a principal prioridade no Mundo.

Segundo o especialista, a governabilidade dos recursos hídricos é o primeiro passo a dar para uma maior conservação da água. Apontou “a multiplicidade de instituições ligadas à água” como um dos principais defeitos de Portugal no que toca à sua gestão hídrica. “É fundamental criar um Ministério da Água ou uma entidade neutra e que tenha a gestão exclusiva deste assunto”, salientou ainda o vice-presidente do programa da UNESCO.

Uma lei da água bem pensada é outra das prioridades para a gestão eficaz dos recursos hídricos, lei que, segundo o especialista, é “bastante deficiente em Portugal”.

A formação de profissionais competentes nesta área e uma boa informação da opinião pública são outras das medidas essenciais.

Fonte: Jornal de Notícias

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