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As altas temperaturas e a falta de água fizeram ontem as primeiras vítimas entre animais das explorações pecuárias do distrito de Évora. Durante a madrugada morreram por desidratação 28 porcos de raça alentejana na Herdade da Loba, no concelho de Arraiolos, mas muitos mais poderão não resistir nesta e noutras propriedades da região nos próximos dias, uma vez que as reservas de água estão praticamente secas.
José Fialho, proprietário destes animais, não escondia o desalento. “Os porcos, que já foram vistos pelos veterinários para se apurar a causa da morte, estavam gordos e valiam cerca de nove mil euros. É um enorme prejuízo, ainda para mais quando estamos todos endividados devido à falta de água e alimentação”, frisou ao nosso jornal este agricultor de 62 anos.
Nesta propriedade, situada em São Pedro da Gafanhoeira, existem ao longo dos 612 hectares várias reservas de água, mas apenas uma tem neste momento água em quantidade suficiente para abastecer as cerca de 2300 cabeças de gado (suínos, ovinos e bovinos) da exploração. “Só tem água para os próximos 15 dias. Depois disso fico sem gota e ainda estamos só no início do calor”, acrescentou.
Devido a esta situação de seca extrema, José Fialho acredita que alguns dos animais acabarão por morrer à sede, apesar dos “esforços” que irá fazer para os manter hidratados. “Não vou desesperar. Quando acabar a água vou buscá-la aos meus vizinhos. Mas as minhas cabeças de gado consomem 60 mil litros e vai ser difícil aguentar o Verão”, sublinhou.
Este agricultor irá expor o caso na terça-feira ao Governador Civil de Évora. Ontem, já contou com o apoio da Confederação dos Agricultores de Portugal. Francisco Carolino, dirigente da associação, alertou que esta situação já se verificou no Baixo Alentejo. “Na região de Évora é o primeiro caso, mas com a falta de água outros virão. O Governo tem de entender que esta é uma situação dramática”.
SÓ HÁ CINCO MILHÕES PARA ALIMENTAÇÃO
Os agricultores que se candidatarem às linhas de crédito criadas pelo Ministério da Agricultura na sequência dos efeitos da seca poderão ser “premiados” com ajudas diferentes, consoante o dia em que o respectivo pedido der entrada.
Segundo disse ao CM Vilhena da Cunha, do IFADAP, as candidaturas são aceites por períodos sucessivos de cinco dias, até os ‘plafonds’ das linhas de crédito ficarem esgotados.
Até ao final do dia de sexta-feira entraram no IFADAP, para a linha de alimentação animal, pedidos de crédito no valor de 45 milhões de euros. Já só restam cinco milhões para atribuir.
Em relação à linha de crédito para o abeberamento do gado, cujo ‘plafond’ é de 45 milhões de euros, os pedidos ficaram-se pelos 2,5 milhões de euros. Tal como o CM noticiou oportunamente, a burocracia exigida para aceder a este crédito deverá ter estado na origem de tão poucos pedidos.
Assim, aqueles que se candidataram na semana passada, verão o montante pedido, de acordo com as características das suas explorações e número de cabeças de gado, ser concedido na totalidade. Nos períodos seguintes, porque a linha já está mais magra, e se os pedidos forem muitos, para que todos recebam terá que haver um rastreio entre os vários agricultores.
HERDADE DA LOBA
ANIMAIS
Os 28 porcos que morreram na Herdade da Loba pertenciam a uma vara de 400. Ao todo, a exploração tem 1800 porcos de raça alentejana, 300 cabeças de gado ovino e 250 bovinos. À fome morreram nos últimos meses 27 vacas e cerca de 50 ovelhas.
ÁGUA
Na propriedade existem três furos, oito poços, três charcas e cinco barragens, mas apenas uma tem água. Para manter o gado, José Fialho vai ter que percorrer dezenas de quilómetros por dia para ir buscar água. Na exploração existem quatro tractores cisterna.
CRÉDITO
José Fialho recorreu às linhas de crédito e aguarda pela aprovação. Para já pretende adquirir uma cisterna de 10 mil litros e pagar a divida de 150 mil euros aos fornecedores de farinha. Para fazer face à situação, o agricultor conta com o apoio da CAP.
Fonte: Correio da Manhã
