Marcas brancas já representam 33,5% das vendas

Tempos de crise exigem medidas de crise. A frase encaixa na perfeição não só quando se fala das recentes medidas anti-crise adoptadas pelo Governo mas também quando estão em questão os orçamentos familiares e, mais concretamente, as idas ao supermercado dos portugueses. Face às maiores dificuldades económicas, as marcas brancas ocupam um lugar cada vez maior quer no carrinho de compras dos portugueses, quer nas próprias prateleiras dos supermercados.

Quem fica a ganhar são as famílias. Segundo as contas do Diário Económico, a aposta em produtos de marca própria das cadeias de distribuição permite poupanças superiores a 40 por cento. Popularmente conhecidas como marcas brancas, as marcas próprias ou de insígnia das cadeias de distribuição começaram a surgir timidamente durante a década de 80, mas hoje já rivalizam com as marcas líder. De acordo com um estudo da Kantar Worldpanel Portugal- empresa que realiza estudos de mercado sobre consumo- no primeiro trimestre deste ano as marcas próprias já representavam 33,5 por cento das vendas das grandes cadeias de distribuição. No primeiro trimestre de 2007, representavam 26,5 por cento das vendas.

Uma opção dos portugueses que não é de estranhar já que permite desafogar os seus orçamentos. Segundo António Souto, especialista da Deco, a maior procura de produtos de marca branca deve-se não apenas a uma questão de poupança mas também como uma forma de esticar os orçamentos familiares. “A crise veio tirar um pouco dos preconceitos em relação às marcas próprias”, refere o técnico da associação de defesa dos consumidores.

Numa ida às compras a um hipermercado, o Diário Económico comprovou o potencial de poupança. Para este trabalho foi construído um cabaz de 30 produtos abrangendo diferentes segmentos, desde o alimentar ao de higiene e limpeza. O resultado foi que ao encher o carrinho com produtos da insígnia a factura ficou em 53,72 euros. Comprar o mesmo cabaz mas composto exclusivamente de produtos de marcas de referência, custaria 98,01 euros. Ou seja, mais 44,29 euros.

No nosso carrinho de compras bens alimentares básicos- como pão, esparguete, farinha ou leite- foram adquiridos por menos de dois terços dos preços das marcas líder. No caso de alguns produtos como pasta de dentes, água, fiambre ou amaciador para a roupa as poupanças ultrapassaram os 60 por cento. E isto sem grandes diferenças em termos de qualidade, segundo os especialistas. “Em estudos comparativos, temos demonstrado que os produtos próprios em termos de qualidade não ficam atrás dos produtos líder”, refere o técnico da Deco, acrescentando que “o preço nem sempre é proporcional à qualidade”. Por exemplo, a Jerónimo Martins foi a primeira empresa do mundo a ver a sua marca própria certificada.

Os artigos de marca branca estão à mão dos consumidores em quase todas as cadeias da grande distribuição. Quer seja associado ao nome da cadeia – como é o caso dos produtos Pingo Doce, Continente ou Minipreço- quer das marcas económicas como é o caso da Polegar no Jumbo/Auchan, ou da É e da Sim, no Continente. As marcas económicas permitem, aliás, poupanças ainda superiores às designadas marcas próprias. Por exemplo, no mesmo hipermercado uma embalagem de mostarda da marca própria ficava 9 por cento mais barata do que o mesmo produto mas de uma marca líder. No caso da marca económica, a poupança chegava quase aos 60 por cento.

Como conseguem então, os hipermercados, disponibilizar bons produtos a custos tão baixos? A resposta parece ser simples. Deve-se sobretudo a compras em grande quantidade e custos mais reduzidos, nomeadamente os publicitários. “O produtor não tem gastos nem em publicidade, nem na colocação na superfície comercial. A insígnia, por sua vez, ao colocar produtos na própria loja não tem custos nem precisa de fazer publicidade aos produtos em específico”, refere António Souto.

Mas não é apenas a aposta nos produtos de marca branca que permite poupanças elevadas na ida às compras. Os preços dos mesmos produtos podem variar bastante consoante a região onde estão localizadas as superfícies comerciais. De acordo com um estudo comparativo que a Deco realiza habitualmente (o último foi em Outubro de 2009) verifica-se que nos últimos anos a faixa litoral norte (entre Aveiro e Braga) é onde as cadeias de distribuição praticam os preços mais baixos. Já o interior litoral sul (Algarve), é a região mais cara. Uma situação que, de acordo com António Souto, se justifica por questões concorrenciais e opções estratégicas dos directores de loja. Por distrito, a diferenças entre os preços mais baixos praticados é de 13 por cento.

Quatro factos a reter
Onde compram: Supermercados, hipermercados e discounts foram no primeiro trimestre a única opção de compra para cerca de 40 por cento dos lares, revela um estudo da Kantar Worldpanel.
Comparar preços: Segundo a mesma empresa de estudos de mercado, 83,4 por cento dos consumidores compararam os preços dos produtos em 2009. No ano anterior a percentagem foi de 76,7 por cento.
Quanto gastam: No primeiro trimestre, os portugueses terão gasto, em média, 452 euros com produtos de grande consumo. No trimestre anterior terão gasto mais 21 euros, revela a Kantar Worldpanel.
Preços/quantidade: Segundo um estudo da Kantar Worldpanel, em 2009 75 por cento dos portugueses compararam o preço dos produtos com a quantidade da embalagem. Em 2008 a percentagem foi de 62 por cento.

Fonte: Anil

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