Leite: Crise afecta produção e indústria Espanhola

O sector lácteo europeu enfrenta a maior crise da sua história e a dar origem a contínuos protestos em diversos Estados-membros, com especial destaque para a Alemanha e a França, os maiores produtores de leite da União Europeia.

Esta crise não afecta apenas os produtores mas também a indústria de lacticínios espanhola e que coloca a fileira face ao principal problema do sector primário, a distribuição, uma situação desenvolvida por Luís Calabozo, economista com grande experiência no sector primário e nas relações com a União Europeia (UE) e director-geral da Federacíon Nacional de Industrias Lácteas (FeNIL).

Em entrevista à La-Leche, Luís Calabozo afirma que não há duvidas que passamos por uma crise global e ninguém duvida que Espanha sofreu uma crise mais profunda do que outros Estados da UE

Segundo o economista, os principais factores que determinam a crise do sector leiteiro é a fase descendente de um fenómeno que, na Europa, começamos a sentir a partir dos acordos de Luxemburgo, com a reforma intercalar da Política Agrícola Comum (PAC), de 2003, mas com o qual se vem convivendo de forma mais ou menos recorrente, embora menos acentuada que em 2007.

Assim, se analisar-se a volatilidade dos preços pode-se começar a explicar os factores subjacentes a esta crise no sector, refere o especialista. Analisando as flutuações dos preços do leite em pó e da manteiga como indicadores de preço do leite como matéria-prima, verifica-se que tanto a nível comunitário como os mercados internacionais, combinaram períodos de relativa estabilidade com outros de maior volatilidade ao longo dos últimos 20 anos.

No entanto, esta situação nos mercados globais foi 3,5 vezes maior para a manteiga e 2,3 vezes superior para o leite em pó desnatado, para além da volatilidade nos dois mercados ser maior na última década, aproximando-se a UE cada vez mais do comportamento dos mercados mundiais, um cenário, segundo um inquérito ao nível da indústria, mais provável em termos de futuro.

As causas da volatilidade dos preços no sector dos produtos lácteos referem-se a uma combinação de especificidades do sector, nomeadamente a procura e as alterações não antecipáveis do lado da oferta, de modo que muitas pequenas variações do lado da procura e da oferta podem provocar variações de preços muito significativas

Esta situação ocorreu em 2007, com a explosão da procura nos mercados emergentes, em conjunto com a queda na produção dos países produtores do hemisfério sul, ao contrário do que ocorreu a partir de 2008, cujos efeitos na UE foram sentidos mais fortemente, como resultado de mudanças na política leiteira consolidados no acordo do Luxemburgo.

Questionado sobre a relação da crise económica mundial e leiteira, Calabozo afirma que «é claro que a crise económica mundial acentuou a queda dos preços do leite a nível global, sendo explicável pelos modelos tradicionais, ou seja, na evolução dos preços mundiais do leite em pó desnatado ou do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, bem como nas alterações na produção de leite média anual dos países da Oceânia».

Em relação à diminuição do consumo real do leite e dos produtos lácteos, não é preciso uma quebra significativa no consumo para produzir grandes movimentos nas cotações, de tal forma que verificou-se essencialmente um abrandamento do crescimento da procura que coincidiu com a recuperação das produções, a nível mundial.

Em Outubro de 2007, os preços do leite pagos ao produtor atingiram os valores mais altos da história, chegando aos 48 cêntimos por litro, para além das ajudas da PAC, desde ai os valores caíram progressivamente, tendo alcançado, em Julho de 2009, o preço médio pago no campo em Espanha, 28 cêntimos por litro.

O aumento médio mensal de leite foi de 52 por cento entre Abril e Dezembro de 2007, caindo no início de 2008 e Julho de 2009 37 por cento, para colocar-se em Setembro passado a um nível idêntico ao de Abril de 2007.

O economista diz que é difícil quantificar quando e onde se pode verificar a mudança de tendência, no entanto, a questão passa por perguntar como se forma o preço do leite para poder antecipar os seus movimentos, e acrescenta que na ausência de mecanismos de regulação do mercado a tendência dos preços será marcada pelo preço dos produtos industriais, como demonstram a correlação das séries históricas de preços dos mesmos.

Esta situação resulta da facilidade com que, a nível global, se pode substituir entre leite cru e produtos lácteos industriais, como matéria-prima para produtos de consumo e também, não esquecendo, que pequenas mudanças na oferta produzem movimentos significativos de preços.

O director-geral da FeNIL adianta que o que foi demonstrado com a onda de preços nos períodos de 2007,2008 e 2009 é que a cotação do leite é independente da produção na Europa, ou seja, da quota leiteira, mas, conclui, que o preço do leite em Espanha se forma fora da oferta espanhola.

A única medida para deter este declínio fora do mercado são os preços de intervenção, os únicos que se mostraram capazes de modificar esta tendência, para além de aprender a conviver e gerir a volatilidade da melhor maneira possível e menos prejudicial, refere Luís Calabozo.

Fonte: Anil

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