H5N1: Portugueses acusam empresa de lhes recusar medicação

Os funcionários portugueses da Bernard Matthews não foram submetidos a quaisquer exames médicos e alguns acusam a empresa de lhes ter recusado a medicação preventiva da gripe das aves.

Vítor Inglês, um dos portugueses que trabalha na exploração de Holton, onde foi descoberto o vírus H5N, da gripe das aves, disse esta segunda-feira à agência Lusa que ficou indignado com a acção da empresa.

«Eu trabalho na actividade de maior risco, na matança dos perus, e hoje fui mandado para outra fábrica da empresa. Como me pediram para ir para a secção onde temos de apanhar os perus vivos insisti que queria a vacina, mas eles disseram que não, que nesta fábrica os perus não estavam contaminados e por isso eu não precisava», afiançou.

Vítor já trabalha na Bernard Matthews há quase dois anos e diz não ter razão de queixa da empresa até este momento.

«Tenho uma filha de dois meses em casa, que já é razão suficiente para ter medo, e além disso tinha motivos para suspeitar da minha saúde, porque na quarta-feira senti-me mal quando voltei de Holton e o médico mandou-me ficar em casa dois dias», disse.

«Não tenho razões para suspeitar que as duas coisas estejam relacionadas, mas como não tenho a certeza e os colegas dizem que os perus que morreram já lá estavam na quarta-feira acho normal ter receio», acrescentou.

O português manifestou-se ainda indignado por lhe terem recusado a vacina, pois precisa de trabalhar e os patrões sabem que o fará «com ou sem vacina».

Pelo menos quatro colegas portugueses deste funcionário passaram pela mesma situação, mas apesar de confirmarem as queixas não quiseram prestar quaisquer declarações sobre o assunto.

No local, a Lusa recolheu queixas de que a medicação só foi dada às pessoas que trabalharam depois da notícia ser conhecida e, mesmo assim, só aos da criação de Holton que lidaram directamente com os animais.

Os portugueses que estiveram a lidar com os perus até sexta-feira, e que podem ter lidado com os animais contaminados sem conhecimento disso, só estão a receber os comprimidos de prevenção, o Tamiflu, quando voltam a ser chamados ao complexo aviário de Holton.

Já a questão dos exames médicos foi confirmada por todos os portugueses que a Lusa contactou na cidade de Great Yarmouth, onde vive a maior parte dos funcionários da Bernard Matthews.

«É verdade que me deram o Tamiflu mas não me fizeram nenhum exame, só perguntas. Explicaram-me que era quase certo que não estávamos contaminados, mas que só faríamos exames ao fim de 10 ou 15 dias», disse outro trabalhador que não quis revelar a identidade.

No centro de Great Yarmouth, no local onde os autocarros da Bernard Matthews recolhem diariamente os trabalhadores, hoje havia menos pessoas do que é normal.

«A empresa não está a chamar tanta gente, porque a actividade foi reduzida, mas as notícias também não ajudam. A minha mulher não queria que eu fosse, mas é preciso ganhar dinheiro para trazer para casa», disse à Lusa José Costa, admitindo que não tem vontade de trabalhar.

«Nunca tive tão pouca vontade de trabalhar, claro. Se me pagassem o tempo que me falta do contrato garanto que me ia embora, até porque é isso que a família quer que eu faça», completou Luís Marques, que esperava na mesma fila.

Antes e depois dos turnos de trabalho, os portugueses continuam a juntar-se nos muitos restaurantes e cafés portugueses desta cidade costeira do Leste de Inglaterra para saber informações do caso.

«Vêm cá todos porque a comunicação social inglesa não diz nada sobre os portugueses e mesmo que dissesse era em inglês e muita gente não entende. Por isso temos de ver a televisão portuguesa para entender melhor», explicou Raquel Pereira, funcionária do Café Central.

A empresa britânica Bernard Mattews, exploração onde foi detectado o vírus da gripe das aves e na qual trabalham 767 portugueses, garantiu hoje que os postos de trabalho vão manter-se.

«Podemos confirmar que não há empregos em risco», refere um comunicado da empresa, tranquilizando os portugueses que receiam ficar sem emprego.

O secretário de Estado das Comunidades português, António Braga, garantiu hoje à agência Lusa que não há portugueses infectados pelo vírus H5N1 da gripe das aves.

Fonte: Diário Digital

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