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As 30 mil explorações leiteiras que permanecem activas em Espanha estão a vender este Outono o leite mais caro de toda a Europa. O déficit de produção gerado pela escassez da quota leiteira, a subida dos custos de produção e o aumento das margens comerciais estão entre as causas que explicam a subida generalizada do preço de venda do leite líquido (mais 24 por cento e superando um euro por litro), assim como do resto dos produtos lácteos (iogurtes, queijos manteiga,…).
Segundo dados da Comissão Europeia, o leite das vacas espanholas está a pagar-se na origem a mais de 0,46 euros por litro, 16 cêntimos mais do que en França e 10 mais que na Alemanha. Como é que os produtores puderam encarecer o seu produto em mis de 50 por cento em apenas meia dúzia de meses? Por causa da cuota leiteira. Espanha tem limitada a sua produção leiteira a 6,1 milhões de toneladas anuais, enquanto o consumo atinge os 9 milhões. Até agora o sector foi cobrindo o déficit de produção com o denominado leite negro (leite fora de quota) e, sobretudo, com importações da UE, em especial de França.
“Este ano muitas coisas mudaram. Há escassez mundial de leche, não podemos importar. A conjuntura desmascarou um problema estrutural: temos um elevado déficit de produção”, refere Luis Calabozo Morán, director da Federación Española de Industrias Lácteas (Fenil).
A proposta de Bruxelas é que, desde Abril de 2008, Espanha possa aumentar a sua quota leiteira em dois por cento. As empresas dizem que é insuficiente, já que o déficit espanhol supera os 30 por cento.
A origem da escalada de preços está no empurrão dado pela procura asiática e as escassas produções, na última campanha, na Nova Zelândia, Austrália e Argentina. O leite em pó (o que pode viajar e define as cotações internacionais) passou de 2,38 euros por quilo em Fevereiro, para valores superiores a 4 euros em Setembro, rompendo um longo ciclo de preços razoavelmente estáveis. “as sirenes começaram a tocar em Maio, quando a especulação se apoderou do mercado”, refere José Luis Antuña, director geral da Feiraco.
A escassez teve um efeito fulgurante em Espanha. Os produtores levavam mais de 10 anos vendendo o leite a baixo preço, em torno aos 0,30 euros por litro. Em Maio os proprietários de vacas leiteiras começaram a receber ofertas de grandes companhias para assegurar-lhes um fornecimento, em troca de melhores pagamentos. Nunca se tinha passado nada igual. Desatou-se a guerra dos preços entre empresas e em Agosto o litro do leite no campo superou, pela primeira vez os 0,41 euros.
O principal cenário da batalha é a Galiza, que concentra cerca de 38 por cento da produção espanhola e um 55 por cento das granjas leiteiras. “Aquí vieram todos a garantir o seu abastecimento e, a seguir às empresas, chegaram os intermediários especuladores”, denuncia Jesús Lence, presidente da Leite Río.
À escassez mundial de leite soma-se em Espanha um maior control sobre a leite fora de quota. Foi eliminado mais de um milhão de toneladas anuais de leite que antes se injectavam no mercado sem declarar, para evitar a multa de Bruxelas.
Também a subida dos preços dos cereais contribuiu para a subida o leite em origem. Os produtores asseguram que as rações aumentaram os seus preços em trinta por cento este ano. “O leite levou 20 anos sem subir e a escassez permitiu romper os preços” explica a organização Unións Agrarias.
O resultado é que os preços do brik de leite e do resto de produtos lácteos subiram este ano entre os 24 e os 60 por cento, apesar a que muitas cadeias vendem quase ao preço de custo. “A distribuição continua a usar o leite como produto-isco”, analisa Luís Calabozo. Outras passaram a aplicar margens mais elevadas, o que redunda numa maior subida dos preços. A patronal láctea refere acreditar que preços já tocaram no tecto e consideram que os preços nos próximos meses devem estabilizar em torno dos 0,42 euros por litro.
Fonte: Anil
