Biotecnologia: Portugal Tem 36 Empresas Mas Precisa de 3 600

Portugal tem 36 empresas que se dedicam à biotecnologia (tecnologias da vida), quando são necessárias mais de 3.600, alertou ontem o bastonário da Ordem dos Biólogos, que lamentou a falta de investimento neste sector.

Falando à margem de uma conferência para apresentação dos dados de um estudo sobre os biólogos em Portugal, José Guerreiro considerou que comparativamente à Europa, Portugal está muito atrasado em termos de desenvolvimento da indústria de biotecnologia.

“Trinta e seis empresas é o que existe em biotecnologia. Faltam dois zeros a este número. São precisas pelo menos 3.600”, afirmou o bastonário.

“Temos dez anos para recuperar 30, por isso devíamos arrancar já”, acrescentou, sublinhando que “o século XXI é o da tecnologia”.

Contudo, José Guerreiro reconhece que é necessário investimento privado, o que até agora não tem acontecido, como revela o estudo ontem apresentado, que indica que dos dez mil licenciados em biologia, apenas cerca de 500 trabalham no sector privado.

“Ou há capacidade económica dos empresários e da Banca para lançar um capital de risco e criar empresas de indústria da biotecnologia ou então isto tudo é uma quimera”, considerou o bastonário.

O ministro da Ciência e do Ensino Superior, Mariano Gago, presente da sessão de abertura da conferência, lamentou igualmente a falta de desenvolvimento na área da biotecnologia e afirmou que “o que falta em Portugal é o crescimento da indústria da biotecnologia”.

De acordo com o ministro, “Portugal não teve a mesma evolução em duas áreas de grande expansão económica na Europa: a biologia e as tecnologias da informação”.

Mariano Gago afirmou que estas áreas “partiram ao mesmo tempo e tiveram histórias diferentes, o que não aconteceu noutros países”.

Em Portugal a área das tecnologias da informação “acabaram por encontrar na relação com o emprego uma via de entrosamento com o sector das telecomunicações”, afirmou.

Segundo o ministro, as tecnologias da informação foram “agarradas” pelo sector das telecomunicações e hoje em dia o trabalho nessa área passa pela indústria do software, mas também pela investigação, nomeadamente no campo da robótica.

No sector biológico, a evolução da indústria de biotecnologia parece estar fechada, ao contrário do que se passou com as tecnologias da informação.

Na opinião de Mariano Gago é preciso mudar a formação para acabar com o “problema da segmentação das ciências da vida e as da não vida” e passar a incorporar biologia nas formações clássicas de engenharia e física nas de biologia.

“Acha-se normal em medicina exigir biologia e química, mas não se acha normal exigir prova específica de física, o que seria desejável, tal como exigir para engenharia uma formação biológica e química razoável”, disse.

“Essa interpenetração seria muito benéfica para o futuro e não exige grande mudança nas universidades, porque estas têm tudo lá dentro e têm possibilidade de o fazer”, defendeu.

Para Mariano Gago importa ter em atenção estas reorganizações possíveis, que estão “um pouco contra a corrente”, não reforçar as divisões clássicas entre as áreas e criar vias de penetração.

Fonte: Lusa

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