Biocombustíveis vão fazer aumentar alimentos básicos

A escalada do preço dos cereais e a canalização desta matéria-prima para os biocombustíveis vão provocar um aumento do preço de alimentos básicos em Portugal, alerta a Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA). Entre os produtos mais afectados encontram-se as rações para animais (e consequentemente a carne), pão, óleo, massas, cereais para o pequeno-almoço, farinhas e ovos. deste modo as restantes indústrias.

Pedro Queiroz, director-geral da FIPA, afirmou ao DN que as empresas ainda não reflectiram os aumentos nos preços finais ao consumidor, tendo optado por esmagar as margens de lucro. Contudo, frisou, “esta situação não é suportável por muito mais tempo, sendo expectável uma subida dos preços já em 2008”.

Apesar de garantir que os preços ainda não aumentaram na indústria, destacando que se os consumidores estão a pagar mais é a distribuição que está a lucrar com isso, o certo é que as estatísticas internacionais da OCDE e da Organização Mundial de Alimentação (FAO) revelam uma forte subida do preço de produtos como o queijo, manteiga, leite e carne.

Nos cereais, o aumento é bem evidente: as cotações do trigo e da cevada subiram 47 por cento em apenas um ano, enquanto o milho subiu 32 por cento. Sendo Portugal um forte importador de trigo (mais de 90 por cento) e de milho (50 por cento), a indústria agro-alimentar está a ser muito afectada por estas cotações. Além de outras causas, Pedro Queiroz destaca que a “pressão” sobre os cereais deve-se à utilização destes produtos no biocombustível. “Cada vez mais os stocks alimentares são utilizados nas energias alternativas em vez de serem canalizados para a alimentação. Além disso, o facto de a União Europeia e outros países estarem a dar incentivos para estes combustíveis está a provocar uma distorção no mercado.”

O responsável adiantou que não “está contra os combustíveis limpos, mas se a política ambiental está a afectar bens essenciais alimentares, devia ser revista”. Questionado sobre o facto de apenas 2 por cento da produção de cereais se destinar aos biocombustíveis, Pedro Queiroz destacou que esta percentagem é significativa numa altura em que os stocks mundiais estão em baixo, prevendo-se um aumento deste montante nos próximos anos. De acordo com um estudo elaborado pela HBR, “os stocks nunca estiveram tão baixos na Europa. Dão apenas para dois meses de consumo”. A pesquisa concluiu que em Portugal “as farinhas estão a subir de preço lentamente e quase de forma escondida”. Os industriais estão à espera de “que alguém fique com o ónus do aumento [considerado inevitável], para depois poderem acompanhar a subida de preços”.

Agricultores com visão diferente
Uma posição diferente da FIPA tem a Confederação dos Agricultores de Portugal. Luís Mira, secretário-geral, afirmou que a subida do preço dos cereais – que poderá provocar aumentos nos produtos alimentares – não se deve aos combustíveis verdes. “É muito mais devastador um tufão ou cheias do que os biocombustíveis. Os preços subiram devido às alterações climatéricas e ao aumento da procura face à oferta.”

Adicionalmente, existem políticas que estão a prejudicar a produção. “A União Europeia obriga a que 10 por cento dos terrenos não sejam cultivados, uma medida tomada quando havia excedentes.” Outra razão prende-se com “a proibição de importar milho geneticamente modificado”. O aumento da procura é explicado pelo crescimento da população mundial e também pela subida do consumo em países em desenvolvimento, como a China e a Índia.

Desde o início dos anos 90, este dois países mais do que duplicaram o consumo de óleos vegetais, passando de 12 para 34 milhões de toneladas. Perante a “inquietação” gerada em torno da subida do preço das cereais, o Comité das Organizações Profissionais Agrárias da União Europeia emitiu um comunicado no início do mês a defender que “a política comunitária em matéria de bioetanol não é a causa da situação actual”. O clima é o grande responsável, considerou.

Fonte: Anil

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