Adeus aos cereais

Está estimada em mais de 60% a perda na produção de cereais de Outono/Inverno, cuja colheita já foi concluída. A quebra compara não só com o ano anterior, como com a média dos últimos cinco anos, mas, mesmo assim, leva o Instituto Nacional de Estatística a admitir tratar-se da pior companha cerealífera das últimas décadas.

A referência é histórica e é a maior perda absoluta no panorama da agricultura nacional. Está directamente relacionada com a situação invulgar de seca severa e extrema que o país atravessa, como se documenta em mais um relatório ontem divulgado sobre a evolução do fenómeno em Portugal (ver páginas 5 e 6).

Apesar de serem culturas tradicionais – trigo, centeio, cevada -, o país não está dependente delas. Aliás, lembra a Confederação dos Agricultores de Portugal, só se produz 8% do trigo que se consome, sendo o restante importado, ao contrário do que acontecia quando o Alentejo era considerado o celeiro de Portugal, nas décadas de 40 a 60, com as chamadas “campanhas do trigo”, como recorda Francisco Seixas Palma, da Associação Agricultores Baixo Alentejo. Era o tempo em que o Estado pagava “bem” pelo cereal, recolhendo-o em celeiros, com o objectivo de ter reservas estratégicas de trigo. Quando o país aderiu à União Europeia, essas reservas deixaram de existir e os produtores passaram a vender o cereal ao preço do mercado mundial, considerado muito baixo. É para compensar os agricultores desse diferencial que existem as ajudas comunitárias.

No entanto, também este ano, a atribuição das ajudas, nomeadamente ao trigo, deixou de estar associada à produção da cultura e o agricultor ficou livre para cultivar outras plantações mais lucrativas, recebendo o mesmo que auferiu em 2000-2002.

Mas, a falta de chuva inviabilizou qualquer alternativa e os produtores chegaram a Agosto sem receitas suficientes para suportar investimentos realizados e outros custos de produção que entretanto também se agravaram, como os combustíveis.

A produção de trigo rendeu este ano cerca de 300 quilogramas por hectare, gerando uma receita de 50 euros por hectare. Em anos normais, deveriam ser três toneladas por hectare, a render 200 euros, assinala Francisco Seixas Palma.

Como se sabe, a produção pecuária, dependente das pastagens e dos cereais, foi a primeira vítima (ver texto da página seguinte), tendo o Governo criado três linhas de crédito para minimizar os efeitos no sector. Outras das medidas aguardadas com expectativa é a transferência para Portugal, numa primeira fase, de 200 toneladas de cereais excedentários da Hungria, havendo já autorização para ser criada a comissão que vai gerir o processo.

Outro momento aguardado com ansiedade é o dia 16 de Outubro, para quando está prevista a antecipação de 50% do pagamento único, previsto inicialmente para Junho de 2006.

Fonte: JN

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