2,5 milhões de doses para tratar pandemia de gripe

A acontecer, cientistas prevêem que a pandemia de gripe possa infectar um terço da população portuguesa.

O receio de uma nova pandemia de gripe que, a acontecer, infectará um terço da população nacional levou Portugal a encomendar 2,5 milhões de doses de um medicamento contra a influenza. O anúncio foi feito ontem, em Coimbra, pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), numa altura em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) mantém o alerta sobre o perigo de a gripe das aves que aflige o Sudeste asiático poder dar origem a uma nova epidemia mundial.

Os repetidos avisos da OMS, tendo em conta o que se passa no Vietname, Camboja e Tailândia – com a eventual transmissão a outras zonas do globo -, levaram perto de três dezenas de países a adquirir lotes de medicamentos. Portugal já está a acautelar a existência de uma reserva estratégica do fármaco, cuja substância activa é o oseltamivir (Tamiflu, nome comercial), reconhecido pelo Ministério da Saúde como o mais eficaz na prevenção da multiplicação do vírus da gripe.

“A magnitude da próxima pandemia dependerá da forma como se organizar a resposta. Estamos já a trabalhar em antecipação, em conjunto com a Organização Mundial de Saúde e a Direcção-Geral de Saúde de Espanha”, explicou ontem Francisco George, subdirector-geral da Saúde, no Fórum Luso-Espanhol, em Coimbra, onde responsáveis ibéricos estiveram reunidos para conciliar técnicas e procedimentos no âmbito dos Planos de Contingência de Gripe.

De acordo com o mesmo responsável, a reserva especial de Portugal contará com 2,5 milhões de tratamentos, que deverão assegurar a protecção de um quarto da população portuguesa. No entanto, estes antivirais, que podem custar cem milhões de euros, só chegarão a Portugal no final deste ano, pois existem outros 25 países que já fizeram as encomendas destes fármacos. Francisco George sustenta que “estamos a aproximar-nos do fim do período interpandémico”, pelo que urge uma “utilização criteriosa das novas representações de medicamentos, uma vez que não podemos adivinhar a gravidade da pandemia”. E lembra “Estamos a falar de uma taxa de ataque cuja regra é a existência de 30% de infectados.”

O secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos, que ontem participou na apresentação deste fórum ibérico, recorda que “mais vale prevenir do que remediar” e assume que a reserva estratégica do fármaco já faz parte do plano de contingência. “Estamos a falar de elevados custos mas vale a pena. Por haver uma grande procura em todos os países é que existirão entregas faseadas”, diz. O governante garante que neste trabalho de antevisão do surto viral é importante funcionar em rede. “O que os técnicos nos dizem é que o risco existe. É importante que os serviços de saúde estejam preparados para responder”, acrescentou.

Embora explicando que, nesta altura, “estão a aumentar os níveis de alerta”, Francisco Ramos, considera que “em Portugal se está a trabalhar ao melhor nível” e que o trabalho “tem de ser feito com confiança, sem se passar para a população qualquer alarmismo”. O governante recorda o cenário que começou em Espanha, em 1918, que matou 30 milhões de pessoas em todo o mundo, assumindo, no entanto, que “em nada se assemelha à actual capacidade de resposta dos serviços de saúde”.

Segundo as estimativas das autoridades portuguesas, 30% da população nacional poderá ser infectada em caso de uma pandemia de gripe, provocada eventualmente pela variante humana da gripe asiática. No entanto, ninguém consegue prever quando chegará o vírus H5N1, cuja mutação poderá ter consequências nefastas na saúde humana. Em Coimbra, Bernardus Ganter, da OMS Europa, reconheceu que “é importante olhar para os diferentes cenários e temer o pior”.

O especialista holandês, que em Abril visitou o Camboja, lembra que a gripe “tem muitas variáveis”, logo “temos de estar preparados para estas probabilidades”. Reportando-se ao impacto mundial do surto, Bernardus Ganter alerta “Não temos anticorpos, temos de estar preparados, pois tudo isto tem implicações para os hospitais.” Para o responsável da OMS Europa, existe um paralelismo entre a prevenção desta pandemia e a que o mundo efectuou recentemente para fazer face à pneumonia atípica.

Fonte: DN

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