Sabe quanto custa um litro de leite?

Alguém, no meio de tantos aumentos, ainda sabe o preço de um litro de leite? Perguntámos a 120 pessoas e não fomos surpreendidos. Os mais pobres sabem o preço das coisas… As notícias dos aumentos de preços são diárias, dos serviços básicos aos alimentos. Se vai às compras, sabe do que estamos a falar. Mas depois de aumentos constantes nos últimos meses, ainda alguém sabe quanto custa um litro de leite?

Intuíamos que quem faz as suas compras no supermercado do El Corte Inglés nunca reparou sequer nisso, e que quem só vai ao Minipreço sabe de certeza que um pacote de 1 litro de leite meio gordo custa 0,67 euros, ou perto disso.

Para tirar dúvidas, fomos a quatro supermercados de Lisboa falar com pessoas: ao El Corte Inglés e Pão de Açúcar das Amoreiras, dirigidos à classe média/alta e com preços mais elevados, e ao Minipreço de Campolide e ao Lidl de Alvalade, ambos direccionados para uma faixa da população com menos rendimentos e portanto com preços mais acessíveis. Escolhemos supermercados do centro da cidade e com fácil acesso, excluindo assim as grandes superfícies.

Fizemos um mini-inquérito a 120 pessoas e, apesar do carácter não-científico do trabalho, concluímos que praticamente 80 por cento das pessoas que encontrámos a sair das compras notou, desde Setembro, um aumento sucessivo do preço do leite. Há, no entanto, uma grande diferença quando fizemos a pergunta mais simples de todas: sabe quanto custa um litro de leite?

No El Corte Inglés, onde falámos com 30 pessoas, 63 por cento não sabem, de facto, quanto custa um litro de leite (neste supermercado, 57 por cento das pessoas têm profissões qualificadas, ou seja, são licenciadas). Quando atravessámos a cidade e fomos ao Minipreço (onde só 23 por cento das pessoas têm profissões qualificadas), a percentagem dos que não sabem o preço do leite diminui para quase metade: de 63 para 37 por cento. Podemos então concluir que quem tem pouco dinheiro sabe melhor o preço das coisas e se arrepia sempre que ouve falar em aumento de preços?

Sim, diz o economista e professor catedrático do ISEG João Ferreira do Amaral: “As classes médias/baixas são mais afectadas porque os bens alimentares são o factor principal para o seu rendimento familiar.” Excluída a habitação, em média, as famílias portuguesas gastam, segundo o INE, 19,1 por cento do seu orçamento mensal na alimentação (é o segundo grande gasto, a seguir aos transportes – 20 por cento; o último é a educação – 1,8 por cento). “Se eu ganhasse o ordenado mínimo nacional comia mais batatas e menos carne”, diz José Silva Lopes, economista, ex-governador do Banco de Portugal e que acaba de deixar a presidência do Montepio Geral.

Quando abordada à porta do Lidl de Campolide, uma senhora idosa ficou com uma cara triste ao saber o tema do inquérito, e disse apenas: “Hoje, eu e a minha amiga só conseguimos comprar um iogurte e guardanapos para o nosso lanche. Não temos condições.” Como outra senhora, à saída do supermercado das Amoreiras, que desabafou: “Deixei de ir ao cabeleireiro para poupar.”

20 por cento para comer
Há dois dias, as estatísticas do INE revelaram que entre Março de 2007 e Março de 2008 houve um aumento de 17,6 por cento no preço do leite. Tendo em conta que 5,5 por cento da população activa (241 mil pessoas), recebem o salário mínimo nacional de 437 euros mensais (segundo o Eurostat), este aumento reflecte-se nas suas contas do mês.

Os portugueses, no entanto, continuam a consumir a mesma quantidade de leite e mantêm os hábitos alimentares. Segundo os dados do INE, gastam mais do que a média europeia em comida. No cabaz médio de bens na zona euro, os alimentos representam menos de 15 por cento dos gastos, e em Portugal 20 por cento, segundo o Diário Económico. O INE demonstra também que cerca de 10 por cento das pessoas mais pobres gastam 24 por cento do rendimento em produtos alimentares e bebidas não alcoólicas e 28 por cento em habitação, despesas com água, electricidade, gás e outros combustíveis. Assim, mais de metade do ordenado é gasto em despesas básicas. “Neste momento, há uma redução do nível de vida das pessoas”, confirma Silva Lopes em entrevista telefónica.

Para enfrentar a subida de preços, os portugueses protegem-se comprando produtos de marca própria dos supermercados, o que há uns anos chamávamos “produtos brancos”. No El Corte Inglés, metade das pessoas com quem falámos compra desse tipo de produtos, mas no Minipreço a percentagem aumenta para 90 por cento. Juntos, dos 60 inquiridos do Minipreço e do Lidl, 78 por cento compram “produtos brancos” e apenas 21,7 por cento não os consomem. As razões apontadas pelos clientes: valores baixos e uma boa relação da qualidade e do preço do produto.

Às compras
Depois das entrevistas, fomos às compras. Primeira paragem: El Corte Inglés. Pouco movimento e organizado. Pegámos num cesto e colocámos uma parte minúscula do cabaz do Índice de Preços no Consumidor do INE: um litro de leite, pão, queijo, uma dúzia de ovos, um litro de água, um litro de azeite, arroz, esparguete, iogurtes líquidos. Custou 21,61 euros. Seguimos para as Amoreiras, onde havia claramente um ambiente mais agitado. Depois de escolhermos os mesmos produtos, no final pagámos 17,85 euros. Demos depois um salto até a dois dos supermercados considerados “mais económicos”, o Minipreço e Lidl. Mais pequenos, mais pessoas e mais “produtos brancos” nas prateleiras. No primeiro, o nosso cesto básico custou 16,02 euros, e no Lidl 18,27 euros.

No último fim-de-semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para o facto de a inflação no preço dos alimentos e as dificuldades no abastecimento estarem a causar um agravamento da fome nos países

Fonte: Anil

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